A ideia de ser tido como referencial da estabilidade tem levado o Dr. António Costa a defender, até aos limites do impossível, a manutenção dos membros do Governo questionados.
Assim foi em vários casos que acabaram mal como se previa.
Assim é, agora.
A questão das golas foi o detonador.
Incendeiam? Importa mais saber se houve ou não aproveitamento, ou abuso, ou compadrio.
Esta é uma fronteira que, nem o governo nem os apoiantes, podem ignorar.
O dr. Costa, por entre os silêncios, falou sobre o assunto.
Como? Dizendo ter feito o trabalho de casa, telefonando a entidades visadas na compra dos bens para saber de eventuais interferências do poder ou dos seus filhos.
Mas, porque havia dois problemas, lembrou-se de um e esqueceu as golas.
O facto é que o mesmo secretário de Estado estava ligado a todos eles.
Ou, melhor, a sua intervenção foi mais completa.
Para o caso das aquisições em que o filho do secretário de Estado era visado, inventou uma consulta à PGR. Chutou para a frente.
Algum dia, bastante mais tarde envolta na poeira do tempo, a resposta surgiria.
Quanto às golas, o problema foi mais difícil.
Disse o secretário de Estado que fora a Proteção Civil a decidir.
Durou pouco a fala.
Pouco tempo depois, um adjunto do secretário de Estado foi demitido. Fora ele a adjudicar. Ainda por cima a uma empresa que tinha como principal interessado um autarca da sua terra.
As qualificações do adjunto eram nenhumas.
O ministro recusou qualquer responsabilidade política. Um mestre a atirar ao lado.
Passaram os dias e quase tudo estava esquecido.
Eis senão quando, a investigação rebenta.
Perante as buscas e o escândalo, o SE é forçado a fazer o que deveria ter feito há muito tempo. Demite-se.
Cobre-se o PM com a garantia do funcionamento da justiça.
Não é isso que está em causa.
O poder tem de perceber que a dúvida é impossível e a proteção aos correligionários uma vergonha.
Talvez esta seja a mais certeira seta contra a maioria absoluta.
É por isso que ela é um risco.
E, depois, alguma força o limita partilhando o poder ou apadrinhando?
Seria uma hipótese..
Mas, ao ouvir a constrangida reação do BE, percebe-se como uma maioria nele apoiada não serve senão para calar o incómodo e apelar, em caso perdido, à transparência.
O BE é um passa culpas.
O BE é um pau de cabeleira.
Resta o PAN.
Não se ouve.
Porém, o seu contributo para um apoio à maioria é um desastre.
Eu sei, gosta muito dos animais.
Eu sei, também se lembrou de ser ambientalista.
Eu sei, também, que dificilmente consegue articular uma ideia de governo, por pura e clara ignorância.
E não ignoro como faz do pensamento único e da imposição o seu ideário
O PAN é um tiro no escuro. Portanto, o PS está na terrível situação de não ser conveniente só, nem será fiável mal acompanhado.
O desporto do momento é tentar a escolha entre a maioria absoluta e o parceiro conveniente. De todos os lados chovem as campanhas. Não os acompanho. Não chega.
Diz o dr. António Costa que fez o trabalho de casa.
Para mal dos seus pecados, está, definitivamente, metido em trabalhos.