Estava eu a comentar, junto de uma pessoa amiga, o último debate televisivo Costa-Rio, referindo que «aquilo mais parecia uma conversa de café entre dois escriturários de contabilidade», quando essa pessoa me mostrou, no telemóvel, o comentário que Miguel Castelo Branco produziu, a esse propósito, no Facebook. Dizia ele: «O debate para a vaga de Chefe do Economato correu bem?». Sim, a categoria filosófico-funcional ‘Chefe do Economato’ é bem mais aplicável do que ‘escriturário de contabilidade’. De qualquer modo, os protagonistas mostraram que as suas funções estão longe da Condução Política do país, a qual envolve questões como uma Visão sobre o Futuro de Portugal e dos Portugueses, o nosso relacionamento com os outros povos, próximos (geográfica e culturalmente) ou mais distantes, os caminhos para transformar o país numa Pátria (que inclui Todos num mesmo quadro espiritual de amor e responsabilidade mútua), as questões da soberania e da cooperação e, também, da Ética, na economia, na vida pública e no relacionamento internacional.
Não, nada disso faz parte do universo de preocupação e de ação daqueles protagonistas e de todos os outros que os acompanham a comentar números (ou ‘modelos’) em folhas de excel (ou em papel quadriculado para os menos dotados de inteligência artificial). Porquê? Porque eles estão lá, nas suas funções, como migueis de vasconcelos, como Capatazes dos Poderes Externos que nos dominam, nos subjugam e que querem ser os donos de Portugal, dos seus territórios, recursos e almas.
Por isso não falam das perspetivas da ‘Europa’ (eventualmente desastrosas), do relançamento de uma política digna de relações com África e com os latino-americanos, dos problemas da paz e da guerra à escala global, da potenciação dos recursos nacionais (humanos, geográfico-territoriais, naturais, de cultura, etc.) para relançar o nosso próprio desenvolvimento, produtivo e humano.
Não, o que lhes interessa mesmo é ‘como melhor aproveitar os dinheiros da Europa’, a seu favor e dos grupos clientes, e não a favor da Pátria e da sua Digna Perenidade Futura.
O Rui Rio falou da regionalização numa perspetiva de merceeiro, «se for mais barato sim; se for mais caro, não». Desculpa lá mas a regionalização/descentralização não tem sequer essa dimensão mesquinha de mera obediência aos patrões externos. J. Norberto Pires, num artigo no Público: Gestão do Declínio? É essa a Nova Política de Desenvolvimento Regional?, tece considerações úteis quanto à opinião de altos quadros quanto ao simples abandono de regiões sem condições de se tornarem competitivas (isto é, que não interessam aos bandos de gafanhotos capitalistas). Sim, no futuro essas regiões podem vir a ser boas ‘reservas de índios-portugueses’ a viver de morcelas, quando os estrangeiros tenham comprado a maior parte do país! Eh pá! Tem tino, oh Rio, que até acho que vales mais do que isso!
E o Costa, que nos informou dos brilhantes feitos dos tropas profissionais portugueses ‘um pouco por todo o mundo’? Eh pá! Não foi para isso que fizemos o 25 de Abril! Ainda não percebeste que as nossas tropas andam lá (’um pouco por todo o mundo’) como cipaios ou limpa-retretes dos americanos? Que a Defesa de Portugal, face aos desafios do futuro, é mesmo através do Serviço Militar Obrigatório (SMO), a defesa de Portugal feita pelos próprios portugueses, se necessário em prolongada luta de resistência realizada por todo o povo? De preferência com as velhas G3, que já conhecemos…
É esse o teu limite, Costa, o do SMO como um ‘problema orçamental’?