Hoje, a conquista do poder não depende apenas de uma boa história. Para lá da narrativa e das promessas, há o medo de perder o que de mais valioso temos na nossa sociedade democrática: o respeito pela vontade da maioria.
Neste momento, temos que fazer escolhas radicais: seria bom escolher o melhor deputado, a melhor ideia, até mesmo o melhor programa político. Mas, neste momento, a escolha não se coloca nesse plano: agora temos que escolher entre a o respeito da vontade da maioria ou a hegemonia socialista.
Nas eleições do próximo dia 6 de outubro, o único voto que pode impedir que o PS beneficie das vantagens do método de Hondt e consiga a maioria absoluta é o voto no PSD. A concentração do voto no PSD neutraliza os efeitos do modelo matemático utilizado para converter votos em mandatos na Assembleia da República e que facilitam ao PS a obtenção da maioria dos deputados com uma percentagem menor e sem ter o apoio da maioria dos eleitores.
Mas muito mais perigoso que uma maioria absoluta do PS – que, com o PS, leva sempre à arrogância política e à corrupção – é a possibilidade de, no próximo dia 6 de outubro, com a dispersão do voto da direita e do centro-direita, a esquerda conseguir uma maioria de 2/3 no Parlamento, que lhe permitiria uma nova revisão constitucional de esquerda, que colocaria um ponto final na ‘subsidiariedade’ do Estado e nos empurraria para uma deriva anacrónica estatizante, que asfixiaria a democracia e nos empobreceria ainda mais.
Podemos dizer que estes potenciais resultados não são por culpa do PS, mas por culpa dos do PSD e do CDS, que não convenceram o eleitorado, não conseguem mobilizar os indecisos e ainda sofrem do desgaste da execução do programa de intervenção externa – apesar do excelente arranque de Rui Rio nos debates televisivos. Podemos acusar o fracionamento da direita, com os novos partidos, para justificar as sondagens. Podemos até dizer que um novo partido (IL), que não passa de uma pura ação de marketing sobre uma reciclada cartilha neoliberal (versão Samuelson dos anos 80), consegue ser ‘sexy’, mas o certo é que quaisquer votos nesses novos partidos são votos que facilitam a maioria absoluta do PS.
Nos últimos 25 anos tivemos três governos socialistas (17 anos de governos socialistas, com uma maioria absoluta, no segundo governo de Sócrates) que destruíram o nosso potencial económico e desequilibraram as finanças públicas: primeiro, com as contas falsificadas de Pina Moura, que tiveram de ser corrigidas por Manuela Ferreira Leite, no governo de Durão Barroso (2 anos), e, depois, com a execução da agenda da intervenção externa, pedida por José Sócrates (com o país sem capacidade de pagar a sua dívida externa), no governo Passos Coelho (4 anos).
O PS nunca conseguiu estar mais de 6 anos seguidos no poder sem arruinar o país e António Costa seguramente não fará diferente. Bem pelo contrário, ao ter-se associado ao BE e ao PCP só torna mais profunda a rutura ideológica que pretende fazer, por muito que a ala moderada do PS (que odeia o ‘estranho’ Costa) o queira associado com o PSD.
Por seu lado, há mais PSD para além desta liderança e destas eleições. Rui Rio, arrancando tão tarde, certamente não ficará na liderança do PSD depois das legislativas e qualquer outro líder do PSD não fará qualquer acordo de Bloco Central com os socialistas – estamos livres disso, portanto.
Não será com o PSD que António Costa se entenderá, caso não obtenha a maioria absoluta e, portanto, os seus entendimentos serão necessariamente à esquerda, como sempre foram, assumindo uma rutura no arco de governação que pode levar à extinção do PS depois de Costa (basta pensar em François Hollande e no PS francês!).
A subida eleitoral do PS – por culpa da direita e sobretudo, por culpa da própria extrema-esquerda – provavelmente permitirá entendimentos de incidência governamental para um governo minoritário do PS com um único partido, o que torna o risco de desastre ainda maior.
O PSD, seja qual for o líder do day after – Luís Montenegro (que já terá aceite uma espécie de Nova Esperança, soprada por Miguel Relvas, com Miguel Pinto Luz e Jorge Moreira da Silva, para que se sucedam uns aos outros na liderança, mas não impedindo que, de início, avancem os três e se entendam depois) ou Paulo Rangel (que hesita ainda, apesar de poder vir a contar com os apoiantes de Rio) – vai ter que ser oposição clara ao PS, definir um programa alternativo e utilizar os novos instrumentos ideológicos de campanha que deixou ausentes nestas legislativas.
Por mim, entre os candidatos que se apresentarem, apoiarei aquele que estiver em melhores condições para garantir essa alternativa credível não socialista.
Seja qual for o líder a prazo – e Pedro Passos Coelho ainda pode voltar, se a conjuntura provar que tinha razão – o PSD não pode voltar ao governo apenas para ser a salvação de mais um mau governo socialista.
Porém, até para isso, será necessário o voto no PSD.