Morreu na manhã desta quinta-feira uma figura referencial da política francesa: Jacques Chirac, aos 86 anos. Presidente de França durante doze anos, entre 1995 e 2007, o político conservador deixa um legado ambíguo de 40 anos como servidor público. Louvado por uns, criticado por outros, os seus últimos anos de vida ficaram marcados pela sentença de dois anos de prisão devido aos seu tempo como presidente da Câmara de Paris.
“Jacques Chirac faz parte da história de França”, realçou Richard Ferrand, presidente da Assembleia Nacional, citado pela AFP. Ferrand resumiu a herança do antigo Presidente sublinhando que Chirac deixou “uma França como ele – complexa, por vezes versada de contradições e sempre motivada por uma desenfreada paixão republicana”. Seguiu-se um minuto de silêncio nas duas câmaras do Parlamento francês depois de noticiada a sua morte.
Talvez fruto dessas contradições, muito francesas como assinalou Ferrand, até os líderes dos partidos do lado oposto do espetro político tiveram palavras positivas em relação a Chirac. “Amava mais a França do que aqueles que lhe seguiram”, disse Luc Melénchon, do partido de esquerda França Insubmissa. Já Marine Le Pen, do partido de extrema-direita Reunião Nacional (antiga Frente Nacional), elogiou a prudência de Chirac, acentuando a sua “capacidade de se opor à loucura e à guerra no Iraque”.
Foi na capital francesa que Chirac passou a maior parte do tempo a cumprir funções públicas, liderando-a por 18 anos. Foram por causa destas quase duas décadas que o antigo Presidente foi condenado por corrupção, manchando toda uma carreira política que se iniciou nos 1960.
Quando já não tinha imunidade, Chirac foi condenado, em 2011, por desvio de fundos públicos por um tribunal francês. O então presidente da Câmara criava empregos falsos para financiar o seu partido. A pena foi, no entanto, suspensa devido aos problemas de saúde. Foi o terceiro Presidente a ser reeleito para um segundo mandato desde a V República, mas foi o primeiro chefe de Estado julgado e condenado por um crime – o que na altura foi visto como uma grande vitória da justiça francesa.
Chirac serviu como primeiro-ministro durante a presidência do socialista François Mitterrand, em 1986, e na do centrista Valéry Giscard d’Estaign, em 1974. Em maio de 1968, quando era de secretário de Estado de Charles de Gaulle, atravessou Paris com um revólver na mala.
Era chefe de Governo quando o aborto foi legalizado em França – em 1975 -, simpatizante da ANC de Nelson Mandela, foi dos poucos políticos de direita que votou pela abolição da pena de morte, em 1981; acabou com o serviço militar obrigatório, em 1995; e opôs-se à guerra do Iraque, em 2003.
Nas eleições presidenciais, nunca teve mais do que 20% na primeira ronda, mas derrotou Jean Le Pen, pai de Marie, com uns expressivos 82% dos votos, em 2002.
Conta o Libération, que um dia perguntaram-lhe onde se posicionava politicamente e Chirac foi tudo menos categórico: “Queres saber a substância do meu pensamento? Queres mesmo saber? Bem, francamente, não sei”.