A Casa Branca tentou encobrir as transcrições da chamada que o Presidente dos EUA, Donald Trump, teve com o seu homólogo ucraniano, onde pediu para que este interviesse nas eleições presidenciais de 2020 para ajudá-lo na sua reeleição, de acordo com a queixa do whistleblower anónimo enviada esta quinta-feira ao Congresso: “Sabiam da gravidade do que aconteceu na chamada”.
O líder da administração norte-americana pressionou Volodomyr Zelensky, Presidente ucraniano, para investigar o vice da administração de Barack Obama, Joe Biden, possível rival de Trump nas próximas eleições, e o seu filho – que foi administrador de uma petrolífera ucraniana. Dias antes, Trump congelou a ajuda militar no valor de 400 milhões de dólares (366 milhões de euros), especulando-se que o fez para coagir o líder ucraniano.
O diálogo entre Trump e Zelensky ocorreu no dia 25 de julho e dias depois, diz o whistleblower, vários responsáveis da Casa Branca “intervieram para ‘fechar a sete chaves’ os registos da chamada”, principalmente a reprodução oficial “palavra a palavra”. “Este conjunto de ações sublinham, para mim, que os responsáveis da Casa Branca sabiam da gravidade do que aconteceu no telefonema”, lê-se na queixa.
Embora a transcrição do diálogo telefónico já tivesse sido publicado na quarta-feira, a queixa do denunciante, um responsável das secretas não identificado, apresentada em agosto, contém mais detalhes. Nela, refere que o advogado pessoal de Trump, Rudolph Giuliani, antigo presidente da câmara de Nova Iorque e o Procurador-Geral, William P. Barr, tiveram o papel crucial na pressão ao Presidente ucraniano, Zelensky: Trump por exemplo, sugeriu que o seu homólogo ucraniano se encontrasse com Barr para acertar os pormenores do possível conluio.
“Disseram-me que já havia uma discussão a decorrer entre os advogados da Casa Branca sobre como tratar a chamada devido à probabilidade, na recontagem dos responsáveis, que tinham testemunhado o abuso do seu cargo [Trump] para ganho pessoal”, refere o whistleblower.
De acordo com várias fontes do denunciante no seio da Casa Branca, que faz questão de referir que “não foi testemunha na maior parte dos eventos” descritos, os advogados da Casa Branca “ordenaram” a remoção da transcrição eletrónica do telefonema do sistema informático, onde normalmente estes documentos são depositados.
Ao invés, a transcrição foi armazenada no sistema que gere informações secretas. “Um abuso deste sistema eletrónico porque a chamada não continha nada remotamente sensível do ponto de vista da segurança nacional”, lê-se na denúncia do whistleblower.
Foi por causa desta queixa, tornada pública na semana passada antes de ser desclassificada, que a líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, após longos meses de resistência aos apelos dos congressistas democratas, lançou a investigação formal para a destituição de Trump, na última terça-feira.
O documento revela ainda que entre vários encontros realizados com membros da equipa do Presidente ucraniano antes da chamada, no dia 2 de agosto, Rudolph Giuliani, antigo presidente da Câmara de Nova Iorque, viajou para Madrid, capital espanhola, que não foi reportada na altura, após a conversa para se encontrar com o conselheiro de Zelensky, Nadriy Yermak. Segundo a queixa, Giuliani atravessou o Atlântico “na sequência direta da chamada do Presidente com o Sr. Zelensky sobre os ‘casos’ que eles haviam discutido”.
Trump e os republicanos, por sua vez, estão a tentar pintar o caso como uma conspiração. “O MAIOR ESQUEMA DA HISTÓRIA DA POLÍTICA AMERICANA!”, reagiu o Presidente pelo Twitter.