A cerimónia está marcada para as 16 horas de sábado (15h em Portugal) na Basílica de São Pedro e, segundo o livrete da celebração, monsenhor José Tolentino Calaça de Mendonça será o segundo nome anunciado. O consistório em que serão elevados 13 novos cardeais da Igreja Católica, incluindo o padre português que o Papa chamou em 2018 para dirigir a Biblioteca e o Arquivo Secreto do Vaticano, é o sexto do pontificado de Francisco.
A igreja portuguesa passa a ter cinco cardeais, três dos quais eleitores, grupo que inclui os cardeais com menos de 80 anos que poderão participar num futuro conclave. Aos 53 anos e ordenado bispo há pouco mais de um ano, Tolentino passa a ser o segundo membro mais novo do colégio cardinalício, num dia de festa que continuará ao final da tarde com as visitas de cortesia aos novos cardeais. Os cumprimentos a Tolentino Mendonça estão marcados para a sala régia do Palácio Apostólico.
As escolhas de Francisco para o colégio de cardeais têm sido consideradas simbólicas em diferentes aspetos. É o primeiro pontificado em que o peso dos europeus no grupo que poderá eleger o futuro Papa é inferior a 50%. No grupo de novos cardeais, embora existam outros nomes europeus, há dois bispos africanos – Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa, e Dom Cristóbal López Romero, arcebispo de Rabat, – e também novos membros da América Latina, o arcebispo cubano D. Juan Garcia Rodriguez e D. Álvaro Imeri, arcebispo de Huehuetenamgo, na Guatemala.
Preparar o futuro?
Um próximo conclave terá também uma maioria de eleitores criados no pontificado de Francisco (66 de 124 cardeais, sendo que entretanto alguns completarão já este mês 80 anos), com alguns comentadores a assinalar as escolhas do Papa como homens com quem partilha a visão de uma Igreja mais próxima das periferias e sem muros, com historial de trabalho em migrações e desenvolvimento. E Tolentino Mendonça, na Capela do Rato, tinha por exemplo um grupo de trabalho como homossexuais católicos. «É um consistório em que Francisco eleva um grupo de clérigos com ideias semelhantes às suas, posicionando-se para o ajudar a avançar na sua agenda e para garantir que o próximo Papa, seja quem for, não anda para trás com o relógio», disse o vaticanista John Allen, do site Crux Now. No anúncio do consistório, Francisco considerou que os 13 ilustram a «vocação missionária da Igreja que continua a proclamar o amor misericordioso de Deus por todos os homens e mulheres na Terra».
Padre, poeta, cardeal
Tolentino Mendonça nasceu em Machico em 1965 e foi ordenado padre em 1990, ano em que publicou também o seu primeiro livro de poesia. Especialista em estudos bíblicos e evangelhos sinópticos, o cruzamento entre fé e cultura tornou-se uma das suas imagens de marca como professor da Católica e sacerdote, o que deu uma nova vida à Capela do Rato, onde foi capelão até à mudança para Roma. Sobre a elevação a cardeal, declarou ser um «chamamento para um serviço mais radical e com uma humildade muito grande na colaboração com o Santo Padre».
O presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, e a secretária do Conselho de Estado vão representar o Estado português na celebração deste sábado no Vaticano. Estava também prevista a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, que em setembro considerou a nomeação de Tolentino Mendonça como cardeal o «reconhecimento de uma personalidade ímpar» e pediu autorização ao Parlamento para a deslocação. A ida a Roma acabou por ser cancelada após o falecimento de Diogo Freitas do Amaral. O funeral do fundador do CDS-PP realiza-se este sábado em Cascais.