Papa Francisco pede capacidade de mudar aos mais conservadores

No Sínodo da Amazónia, será estudado um maior compromisso da Igreja com o ambiente, mas também a possibilidade da ordenação de homens casados – com algumas condições.

Meses depois dos incêndios na Amazónia, o Papa Francisco reúne no Vaticano mais de 180 bispos para um Sínodo sobre a região, que começou este domingo. Face à feroz oposição da ala mais conservadora da Igreja, Francisco pediu coragem de mudar para reacender o fogo do “dom de Deus”. 

“Se tudo continuar como está, se passarmos os nossos dias contentes porque “é assim que as coisas sempre foram”, então esse dom desaparece, sufocado pelas cinzas do medo e da preocupação de defender o status quo”, alertou. Francisco já chegou a ser acusado de heresia pelos seus críticos – uma franja pequena mas sonora da Igreja, com grande expressão nos media católicos e nas redes sociais.

Haverá muita coisa a deixar furiosos os mais conservadores neste sínodo. O encontro promete não só aumentar o compromisso da Igreja com a defesa da floresta tropical e dos povos indígenas, mas também estudar a possibilidade de ordenação de homens casados desde que sejam “mais velhos, de preferência indígenas, respeitados e aceites pela comunidade”, segundo o documento orientador do encontro. Um dos objetivos é responder à crescente falta de padres na Amazónia – uma região de difícil acesso, onde 85% das aldeias não têm missa todos os domingos, segundo a Reuters.

No que toca aos assuntos ambientais, em particular aos recentes fogos na Amazónia e o seu impacto na vida dos povos indígenas, o papa tomou uma posição dura logo na homília de abertura da sínodo. “Quando as pessoas e as culturas são devoradas sem amor e sem respeito, o fogo não é de Deus, mas sim do mundo” – notando que “o fogo de Deus é alimentado pela partilha, não pelo lucro”.

 

Conservadores Um dos principais críticos do papa, o cardeal alemão Walter Brandmueller, chegou a ao ponto de escrever uma carta aberta acusando Francisco de “heresia”, questionando: “O que é que a ecologia, economia e política tem a ver com o mandato e a missão da Igreja?”.  Para Brandmueller, o Sínodo da Amazónia pode marcar “a autodestruição da Igreja ou a sua transformação de corpo místico de Cristo a ONG secular com um mandato ecológico-social-psicológico”.

A retórica da ala conservadora tem estado alinhada com a do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que criticou abertamente o sínodo, sugerindo até que as secretas brasileiras iriam monitorizar o encontro. “Tem muita influência política lá”, explicou. 

As nossas lideranças “são criminalizadas como inimigos da Pátria”, lia-se numa carta-aberta divulgadas pelos bispos brasileiros que estarão presentes no sínodo. Aliás, em 2018 Bolsonaro chegou ao ponto de apelidar a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil como “a parte podre da Igreja Católica”.

 

Progressistas Algo que certamente não diminuí a tensão entre o Presidente brasileiro e o Vaticano é certamente o grande número de sacerdotes progressistas entre os sul-americanos convocado para o Sínodo da Amazónia. “Qualquer cristão tem um compromisso profético com a justiça, paz e dignidade de todos os seres humanos”, assegurou à Reuters o cardeal peruano Pedro Barreto Jimeno, que inclui nesse compromisso a proteção das pessoas e do ambiente contra os excessos do “modelo dominante de sociedade, que leva a exclusão e desigualdade”.