Logo ao início da manhã houve tentativa de boicote ao voto para as eleições legislativas, em três mesas de voto das aldeias de Morgade, de Cortiço e de Arcos, do concelho de Montalegre, no distrito de Vila Real, em Trás-os-Montes.
Nas localidades de foram constatadas algumas chaves partidas nas fechaduras das portas dos edifícios e na sede da freguesia, em Morgade, todos os portões estavam fechados com cadeados, bem como a fechadura da porta colada.
Em Montalegre, a LusoRecursos Portugal Lithium, uma empresa de Braga que em março assinou o contrato de concessão com o Estado Português para explorar a Mina do Romano situada em Sepeda, anunciou um plano de negócios de 500 milhões de euros, a criação de cerca de 500 postos de trabalho e a implementação de uma unidade industrial, mas estes argumentos não estão a convencer uma grande parte dos populares e de autarcas, que recentemente foram até Lisboa protestar, enquanto a empresa LusoRecursos está para já em fase de elaboração do respetivo estudo de impacto ambiental.
“Nunca fomos ouvidos em todo este processo e não aceitamos que queiram construir uma mina ao lado das nossas casas que vai alterar completamente a nossa forma de vida. Não aceitamos que alguém em Lisboa decida que quer destruir parte das nossas aldeias e serras e a nossa qualidade de vida”, afirmou Armando Pinto, porta-voz da Associação Montalegre Com Vida.
O presidente da Junta de Freguesia de Morgade, José Nogueira, declarou aos jornalistas que “esta manhã, deparámo-nos, logo com as instalações vedadas a cadeado, a fechadura vandalizada e teve que se recorrer ao arrombamento das portas para colocar a mesa de voto em funcionamento”.
“Não votarem, tudo muito bem, agora andarem a vandalizar as coisas eu não concordo”, disse o autarca transmontano, revelando que “também não vou votar hoje”, ele que desde o início mostrou sempre as maiores reservas à mina a céu aberto.
Depois das europeias de 26 de maio, estre é o segundo protesto este ano contra a mina de lítio a céu aberto anunciada pela empresa LusoRecursos para esta freguesia, que inclui as aldeias de Morgade, Carvalhais e Rebordelo e onde estão inscritos 325 eleitores.
Para as eleições europeias de maio votaram apenas quatro eleitores e, nesse dia, a mesa de voto abriu com um atraso de cerca de uma hora e meia, também devido à porta trancada do edifício da Junta de Freguesia de Morgade.
“Podemos mostrar às pessoas que efetivamente estamos contra, que não queremos aqui a exploração mineira, mas de uma forma ordeira”, salientou José Nogueira.
Nas imediações da sede da Junta de Freguesia de Morgade, onde está instalada a mesa de voto, concentraram-se dezenas de populares e pela aldeia foram também colocadas tarjas de grande dimensão onde a principal mensagem que se pode ler é “não à mina, sim à vida”.
Preocupações com a cratera
Para além das preocupações com a dimensão da cratera da mina, a população aponta ainda preocupações relacionadas com os todos os prejuízos ambientais, as consequências para a qualidade da água e do ar, os impactos sobre os solos ou sobre a classificação como Património Agrícola Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
“Nós estamos a apelar a que as pessoas não votem porque é a única forma de os membros do Governo e quem está na iminência de entrar para o Governo nos ouvirem. Estamos a lutar contra a destruição da nossa terra. Não, não à mina”, afirmou Teresa Dias, também residente em Morgade.
“As aldeias estão muito próximas da concessão e isso traz impactos enormes aos habitantes das três aldeias e eu tenho a certeza que se a mina for para a frente as pessoas não vão poder viver aqui”, sublinhou este popular, em declarações aos jornalistas, durante esta manhã, em Morgade.