O domínio do capital financeiro exerce-se sobre todos os sistemas produtivos (industriais, comércio, serviços, agricultura, investigação, comunicação, saber e cultura, etc.) sobre os Estados (inc. os partidos políticos), as organizações da ‘sociedade civil’, as famílias e os indivíduos, em todo o mundo, em todas os recantos do mundo onde não se viva da caça e recoleção ou de uma produção artesanal de subsistência.
As principais ‘praças’ (ou fábricas) mundiais do capital financeiro são Wall Street e a City, seguindo-se algumas ‘fábricas pequenas e médias’ em Frankfurt, em Hong Kong e outras cidades chinesas (compreende-se porque se quer ‘abater’ Frankfurt e Hong Kong ?).
O capital financeiro reproduz-se através de juros, dividendos e rendas (o equivalente aos antigos Tributos), pouco lhe importando que as suas receitas provenham de negócios de parafusos, de alfaces ou de cabeleireiros, importando-lhe ainda menos se ‘na ponta’ dos processos produtivos de que se alimenta fica a miséria humana ou ecológica.
O capital financeiro exerce o seu domínio através de um amplo sistema de dependências em cascata em tudo semelhante ao antigo feudalismo: na esfera política, desde o Clube de Bilderberg (e outras ‘holdings’ semelhantes) até à esmagadora maioria dos partidos políticos e ‘indivíduos de renome’ elegíveis num exercício a que habitualmente se chama ‘democracia’; na esfera económico-financeira, a partir dos grandes conglomerados financeiros até aos ‘bancos locais’, simples capatazes ‘locais’ da interminável rede que vai dos reis aos duques, dos marqueses, condes e outros fidalgos, até ao feitor e ao mestre-de-obras. O mesmo se passa nas demais esferas onde, por exemplo, as principais ‘fábricas’ dos média geram e difundem ‘notícias e opiniões’ que os subalternos/vassalos vão repassando ao longo da escala de dependências até que sejam engolidas pelos povos. As principais universidades/centros de investigação (diretamente controladas pelo capital financeiro), organizam também, em sistema de dependências em cascata, a investigação fundamental ou aplicada até à mera ‘mercearia’ das universidades locais, onde se estuda a ligação da asa do gafanhoto ao seu abdómen, sem se compreender o alcance global do estudo, isto é, as migrações dos bandos de gafanhotos pelas pastagens.
Tudo isto para se poder entender melhor a ausência de reflexão sobre o posicionamento internacional de Portugal no quadro das eleições em curso, na medida em que, aos ‘partidos do sistema feudal existente’, não é sequer autorizada essa reflexão mas somente a mera ‘aceitação do facto’ de que Portugal tem o papel que alguém, ‘a outros níveis’, já lhe atribuiu, de papel de embrulho…
E também para se entender melhor que, afinal, os Populistas não são mais do que os grupos, partidos ou pessoas que se escaparam à atual Ordem Neofeudal e que, cada um a seu modo, se preparam para a combater.
Os ‘populistas’ rejeitam o atual Sistema Mundial (Cosmopolita) de domínio do capital financeiro e os borregos, de ‘esquerda ou de direita’, que o apoiam. Não sabem ainda que alternativa/caminho seguir, mas eu, por mim, gosto daqueles que, em serões do «Socorro Operário», dizem:
«O contrato social é uma infâmia dos inimigos do Homem. A natureza orienta-nos para solucionarmos os nossos problemas dialogando de forma fraterna. Não se pode regulamentar o que a vida já regulamentou». Luís Sepúlveda: in Patagónia Express, Porto Editora, 2011