Depois de ter sido dada luz verde por parte dos Estados Unidos, a Turquia apressou-se, esta quarta-feira, a avançar com a tão esperada invasão militar no nordeste da Síria. Recep Tayyip Erdogan, Presidente da Turquia, quer livrar-se dos refugiados sírios que alberga no seu país e remover as forças curdas da área fronteiriça.
“As Forças Armadas Turcas, juntamente com o exército nacional sírio, acabaram de lançar a Operação Primavera da Paz contra os terroristas do PKK/YPG e do Daesh no norte da Síria. A nossa missão é prevenir a criação de um corredor de terror na nossa fronteira sul e trazer paz para a área”, anunciou Erdogan no Twitter. Ancara considera as Unidades de Proteção Popular (YPG), uma das organizações que integram as Forças Democráticas da Síria (FDS), como parte do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), movimento de guerrilha que luta no Estado turco há décadas.
A operação começou com ataques aéreos e bombardeamentos na fronteira, revelou a Reuters, citando fonte das forças de segurança turcas. As vilas Ras al-Ain e Tel Abyad, a cerca de 30 quilómetros da Turquia, foram evacuadas e já foram reportadas baixas civis.
Tanto a CNN Turk como as milícias curdas revelam que o medo reina entre a população. “Os aviões de guerra turcos começaram a lançar ataques aéreos em áreas civis. Há um grande pânico entre as pessoas na região”, avisou Mustafa Bali, assessor de imprensa das FDS, pelo Twitter. Segundo o mesmo, já morreram duas pessoas e várias ficaram feridas. Já a CNN Turk relata dois fortes bombardeamentos no distrito de Ceylanpinar, na Turquia.
Washington era uma força de bloqueio ao avanço de Ancara contra as FDS, seus aliados no combate contra o Daesh (ou ISIS) desde 2015 – altura em que a organização terrorista controlava uma área do tamanho da Grã-Bretanha.
Num volte-face abrupto na política externa norte-americana que chocou até os republicanos, Donald Trump anunciou a retirada das suas forças da região, deixando as FDS à mercê dos turcos. Depois de um telefonema com Erdogan no domingo, os militares norte-americanos deixaram os postos de observação na fronteira, na passada segunda-feira.
Num comunicado publicado nesse dia, as FDS comprometeram-se a defender a sua terra “a todo o custo” face à “facada nas costas” de Washington. “Este ataque vai espalhar sangue de milhares de civis inocentes porque as nossas áreas fronteiriças estão sobrelotadas”.
Além de querer criar uma zona de tampão para enfraquecer os curdos, Erdogan pretende criar uma “zona de segurança” de 32 quilómetros a entrar no território da Síria para relocalizar um milhão de refugiados que estão atualmente na Turquia. Esta invasão pode abrir as portas para agressões a outros territórios das FDS por parte da Rússia e de Bashar al-Assad, Presidente da Síria – ou o contrário: obrigar as FDS a coligar-se com o ditador sírio para combater a agressão turca.
São vários os países e organizações a pedir que a Turquia modere as suas ações e não aumente as hostilidades. Foi o caso do Irão, ou do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que vai encontrar-se com Erdogan na sexta-feira. A pedido das nações europeias, o Conselho de Segurança das Nações Unidas irá discutir a invasão turca esta quinta-feira.
As FDS têm detidos mais de 10 mil combatentes do Daesh, o que levou Bali a fazer um aviso às nações europeias pelo Twitter: “Um dia, quando a Turquia usar os combatentes do ISIS como uma ameaça à Europa e ao mundo, tal como faz com os refugiados sírios agora, vamos relembrar quem confiou na Turquia para gerir os campos de detenção dos seus militantes [ISIS] e que o seu silêncio cúmplice foi a principal causa”.