Equador. Militares mobilizados para controlar protestos

Moreno culpou o narcotráfico e o seu antecessor pelos protestos. Negociações entre Governo e manifestantes decorreram este domingo à noite.

Depois de uma semana e meia de protestos, desencadeados pela subida dos preços dos combustíveis, que estão a paralisar o país, os militares foram mobilizados para as ruas da capital, Quito. O Presidente Lenín Moreno decretou também o recolher obrigatório na capital, a primeira medida do género imposta no país desde a década de 1970. As negociações entre Moreno e os líderes indígenas começaram ontem à noite.

“Ordenei [as forças armadas] a tomar todas as medidas e operações necessárias”, anunciou Moreno num discurso televisivo no sábado, citado pela Associated Press. “Vamos restaurar a ordem em todo o Equador”. Moreno culpou o narcotráfico e o crime organizado pela violência que avassala o país e acusou os seguidores do ex-Presidente, Rafael Correa, de quererem derrubar o seu Governo. Acusações essas que Correa nega veementemente.

Moreno disse ainda que os protestos nada têm que ver com os milhares de equatorianos indígenas que saíram às ruas contra o pacote de medidas de austeridade, apoiado pelo Fundo Monetário Internacional. Em troca de um empréstimo no valor de 4,2 mil milhões de dólares (4,6 mil milhões de euros), o Governo concordou cortar na despesa pública.

O chefe de Estado anunciou o envio do destacamento militar e o recolher obrigatório na sequência do anúncio dos líderes indígenas de que estariam dispostos a negociar diretamente com Moreno, como a Confederação de Indígenas das Nações do Equador (CONAIE). Os manifestantes exigem o retorno dos subsídios ao combustível, cujo corte com o pacote de austeridade fez disparar os preços. O Governo, por sua vez, já mostrou alguma disponibilidade para reverter as medidas de austeridade – os subsídios aos combustíveis representam cerca de 1,3 mil milhões de dólares anuais (1,43 mil milhões de euros).

Embora a CONAIE rejeitasse, inicialmente, sentar-se à mesa com Moreno, acabou por concordar em fazê-lo sob a promessa que as negociações fossem transmitidas em direto e não à porta fechada.

“Não vamos conversar com as portas fechadas. Tem de ser com o povo equatoriano [a ouvir]”, disse Leonidas Iza a uma televisão local, um dos líderes do CONAIE. De acordo com as Nações Unidas, as negociações decorreram às 20h00 (2h00 em Portugal continental).

Os meios de comunicação também têm sido alvo da fúria dos manifestantes. Na manhã de sábado, atacaram a estação equatoriana Teleamazonas, em Quito – que divulgou as imagens de janelas partidas e de um carro a arder. 

Sentindo a pressão dos protestos e para proteger o Executivo da violência, Moreno mudou a sede de Governo de Quito para uma cidade costeira a mais de 240 quilómetros de distância da capital, na passada segunda-feira.