Foi a primeira mulher a ocupar o cargo de secretária permanente da Academia Sueca, responsável pela entrega do Nobel da Literatura. Foi no período em que ela, Sara Danius, a liderou que o Nobel da Literatura distinguiu a jornalista bielorrussa Svetlana Alexievitch, o britânico Kazuo Ishiguro e ainda o autor e compositor norte-americano Bob Dylan. Mas foi também sob a sua direção que a instituição teve de lidar com um escândalo sem precedentes, movido por acusações de abusos sexuais contra Jean-Claude Arnault, marido de Katarina Frostenson, membro da Academia. A crise que acabaria por levar não só à sua demissão como ao adiamento da entrega do Nobel da Literatura do ano passado para 2019.
Dois dias depois de uma edição atípica, no final da semana passada, em que o prémio foi atribuído a duas figuras – a Peter Handke, Nobel da Literatura de 2019, e Olga Tokarczuk, com um ano de atraso – foi anunciada, pela sua família à agência TT, a morte de Sara Danius, aos 57 anos, vítima de cancro da mama. Segundo fez saber depois a Academia Sueca, uma doença contra a qual a crítica literária e filósofa sueca lutava já desde 2014.
Foi no ano anterior, em 2013, que se juntou à Academia Sueca, da qual se tornou secretária permanente em 2015. Em 2018, viu-se forçada a apresentar a demissão, depois de o jornal sueco Dagens Nyheter ter publicado confissões de 18 mulheres que acusavam de assédio e abusos sexuais o fotógrafo e diretor artístico francês Jean-Claude Arnault, entretanto condenado a dois anos e meio de prisão por dois crimes de violação.
O escândalo atingiu de imediato a Academia Sueca por Arnault ser casado com Katarina Frostenson, membro da Academia Sueca, e por ambos dirigirem um clube literário que contava com o apoio da Academia. Arnault chegava mesmo a ser descrito como o “décimo nono membro” da Academia pela influência das suas opiniões na escolha dos nomes para o Nobel da Literatura. Danius acabaria por se demitir nesse ano.
a nova polémica Desde então procurando recuperar do escândalo, a Academia Sueca voltou este ano a entregar o Nobel, com uma escolha que deu origem a uma nova polémica: o escritor Peter Handke, conhecido pela apologia do regime de Slobodan Miloševic. Depois de inúmeros intelectuais da Bósnia, do Kosovo e da Albânia se terem insurgido contra a decisão, veio neste fim de semana o governo bósnio mostrar, em comunicado, a “surpresa e descontentameto” com a atribuição do Nobel ao controverso escritor austríaco.