O recenseamento automático através do cartão do cidadão permitiu que os cadernos eleitorais tivessem 1.466.754 inscritos nas eleições legislativas para os círculos eleitorais da Europa e fora da Europa, mas votaram 158.252 emigrantes. A participação foi cinco vezes superior face a 2015, com mais 130 mil votos, porém, há um número a assinalar: o dos votos nulos.
Os dados oficiais revelaram que 35.331 votos foram considerados nulos, qualquer coisa como 22% do universo dos votantes. Milhares não foram contabilizados porque o eleitor emigrante não enviou a fotocópia do cartão de cidadão no envelope com o voto. Em alguns casos foram aceites os votos, noutros não, segundo avançou a Rádio Renascença. O porta-voz da Comissão Nacional de Eleições, João Tiago Machado, que acompanhou as 26 horas de contagem eleitoral, confirma ao i que houve protestos, mas também “votos que foram considerados nulos pelas mesas e ninguém protestou [dessa decisão]”. Os votos “só vão para a mesa nacional de apuramento – e foram vários – quando há algum protesto”.
Muitos dos votos anulados resultaram também do facto de os eleitores emigrantes terem enviado a correspondência com a mistura de envelopes. Todos os eleitores receberam em casa um envelope branco e um verde. Este último seria para colocar o boletim de voto, fechado, e inserido no branco. Em vários casos esta regra não foi respeitada. E o voto foi anulado.
Acresce-se a estes números de votos nulos as queixas de emigrantes de correspondência devolvida. Em casos não chegou a Portugal qualquer voto, designadamente, da África do Sul. Isto apesar de terem sido enviados 32 mil boletins. Ou seja, os problemas surgiram no voto por correspondência.
No balanço final, o PSD elegeu mais dois deputados e o PS outros dois, a saber: Paulo Pisco, pelo círculo da Europa, e Augusto Santos Silva, pelo círculo fora da Europa, do lado dos socialistas e Carlos Gonçalves (Europa) e José Cesário ( Fora da Europa) pelos sociais-democratas.
Pela primeira vez em vinte anos, o PS conseguiu um mandato fora da Europa, o do ministro dos Negócios Estrangeiros indigitado, Augusto Santos Silva. O PSD, normalmente, fazia o pleno por este círculo da emigração onde se elegem dois mandatos.
Nas reações, o primeiro-ministro, António Costa começou por salientar a “enorme participação” dos emigrantes, para reconhecer, por fim, citado pela RTP que pode ser necessário “melhorar as condições” em próximos atos eleitorais.
Entretanto, o Livre pediu um inquérito urgente para se identificar as falhas e corrigi-las a tempo das eleições presidenciais. “ Os inúmeros erros e percalços nestas eleições exigem a abertura imediata de um inquérito que identifique todas as falhas ocorridas, o impacto de cada uma delas e a definição de boas práticas para o futuro”, lê-se num comunicado.
Os deputados eleitos do PSD também apontaram críticas aos problemas registados, e José Cesário considerou uma “falta de respeito” já haver a divulgação de um novo Governo antes mesmo de terem sido conhecidos os resultados finais, citado pela RTP.
Por sua vez, Santana Lopes, presidente do partido Aliança, acrescentou no Twitter que “o que aconteceu com os votos dos emigrantes é uma vergonha nacional. Não se pode ir para diante como se nada de grave se tivesse passado”.
De realçar que o PAN foi a força política mais votada a seguir ao PS e ao PSD nos círculos da emigração, com 4,8% dos votos, o Bloco de Esquerda ficou com 4,75%, e menos 143 votos do que o PAN. Já, o CDS conseguiu 3,3% e a CDU 2%.
Em termos finais, com a votação consolidada e atribuídos os 230 mandatos, o PS tem 108 deputados eleitos e o PSD 79 deputados. O Bloco de Esquerda tem 19 deputados, a CDU ficou com doze, o CDS 5 e o PAN 4.
As estreias no parlamento serão o Livre, a Iniciativa Liberal e o Chega. Cada partido ficou com 1 deputado.