A violência brotou nas ruas da Bolívia depois da divulgação da contagem de votos das eleições presidenciais do último domingo. Há protestos pelo menos em nove regiões do país contra o Presidente boliviano, Evo Morales. A onda de indignação iniciou-se devido às contagens eleitorais contraditórias e à perceção de fraude eleitoral.
Os resultados preliminares publicados (83% dos votos contados) na noite de domingo davam 45% a Morales e 38% a Carlos Mesa, o que significaria uma segunda ronda.
Mas os resultados divulgados na noite de segunda-feira – os resultados não foram atualizados durante 24 horas no site eleitoral -, com 95% dos votos contados, davam uma vitória significativa a Morales, com 10,12% de vantagem sobre Mesa – o suficiente para afastar uma segunda ronda e dar um quarto mandato consecutivo ao atual chefe de Estado.
Na Bolívia, a lei eleitoral dá a vitória a um candidato na primeira ronda caso este obtenha mais de 50% dos votos, ou uma votação de 40% (ou mais) com uma vantagem de pelo menos 10% sobre o segundo.
Conhecidos estes números, os apoiantes de Mesa entraram em confrontos com a polícia de choque em mesas eleitorais, como em Oruro, no sul de La Paz, e Cobija, no norte da Bolívia.
A situação levou Mesa, que foi chefe de Estado entre 2001 e 2005, a tomar uma decisão radical e a oposição a Morales a convocar uma greve geral contra os resultados. “Não vamos reconhecer os resultados, que são parte de uma vergonhosa e consumada fraude que está a pôr a sociedade boliviana numa situação de tensão desnecessária”, afirmou Mesa.
Por outro lado, a Organização dos Estados Americanos, sediada em Washington, mostrou a sua “profunda preocupação” e “surpresa com a mudança drástica e difícil de explicar”, por a contagem mostrar uma vitória de Morales na primeira ronda. E instou as autoridades eleitorais a “defender firmemente a vontade do povo boliviano”.
Morales procura um quarto mandato quando, em 2017, perdeu um referendo onde pedia que não houvesse limite de mandatos. Mesmo assim, o Tribunal Constitucional autorizou-o a concorrer às eleições deste ano.