José Sócrates esteve quase cinco horas a ser interrogado pelo juiz Ivo Rosa, num dia praticamente dedicado à OPA da Sonae à PT e a questões do universo GES. Além das questões colocadas pelo juiz de instrução, o antigo primeiro-ministro teve ainda de responder a algumas perguntas do procurador Rosário Teixeira. Segundo o jornal i, durante o interrogatório, José Sócrates terá dito por mais de uma vez que a acusação do caso Marquês é “delirante” e “infundada”. E à saída do tribunal, já depois das 19h30, disse aos jornalistas que “é muito fácil fazer alegações totalmente infundadas” e “muito mais difícil repor a verdade”. A reposição da verdade foi, aliás, uma expressão muito usada esta segunda-feira pelo ex-governante, que logo à chegada ao Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) disse: “Venho aqui fazer o que tenho feito ao longo destes cinco anos: repor a verdade. É um longo caminho, um caminho mais árduo do que aqueles que fazem alegações completamente infundadas, injustas e até absurdas. Mas é isso que venho aqui fazer: repor a verdade”.
Segundo o Expresso, José Sócrates negou ao juiz Ivo Rosa qualquer interferência do seu Governo na OPA falhada da Sonae à Portugal Telecom, algo que já tinha feito na fase de inquérito: “A posição do meu Governo era neutral”. O mesmo jornal diz ainda que, quando foi confrontado com a parte da acusação que defende que o ex-governante terá recebido mais de 20 milhões do Grupo Espírito Santo para beneficiar o universo liderado por Ricardo Salgado, impedindo o sucesso da operação da Sonae, Sócrates disparou: “Isso é falso, injurioso e uma ignomínia”. Sobre o que disse José Maria Ricciardi sobre o caso, Sócrates também lançou duras críticas, acusando-o de ter uma “mente alucinada”.O ex-primeiro-ministro terá ainda negado ter recebido qualquer dinheiro proveniente do seu primo José Paulo Pinto de Sousa: “Isso é apenas uma acusação alucinada”.O antigo governante continuará a ser ouvido esta terça-feira, às 14h, devendo o interrogatório focar-se nos negócios relativos ao Grupo Lena.
Recorde-se que o ex-primeiro-ministro pediu ao Tribunal Central de Instrução Criminal para depor apenas depois de serem ouvidas as testemunhas Maria de Lurdes Rodrigues, Raul Vilaça Moura, António Mendonça e Mário Lino.Mas o juiz Ivo Rosa decidiu não aceitar o pedido da defesa de Sócrates. “Tendo em conta o agendamento já concretizado e não se vendo qualquer utilidade na ordem de produção de prova sugerida pelo arguido, mantém-se o interrogatório judicial nos termos agendados”, refere o juiz de instrução criminal num despacho a que o i teve acesso.O Ministério Público, através do departamento que investiga a criminalidade mais complexa, acusou em 2017 28 arguidos, 19 pessoas singulares e nove pessoas coletivas, no âmbito da designada Operação Marquês.José Sócrates está acusado de crimes de corrupção passiva de titular de cargo político (três crimes), branqueamento de capitais (16 crimes), falsificação de documento (nove crimes) e fraude fiscal qualificada (três crimes).A instrução é uma fase facultativa cuja abertura é pedida pelos arguidos e na qual um juiz de instrução decide se há ou não indícios suficientes para se avançar para julgamento, como defende a acusação.