Sebastián Piñera está de momento a lidar com uma onda de enorme indignação. O Presidente do Chile tem tomado decisões invulgares para gerir os protestos, e esta semana foi obrigado a cancelar a cimeira da Cooperação Económica da Ásia Pacífico (APEC) e a Conferência sobre as Alterações Climáticas das Nações Unidas, que iriam realizar-se no país.
O anúncio foi feito esta quarta-feira pelo próprio. A conferência climática estava agendada para o mês de dezembro, enquanto a cimeira da APEC seria já este próximo mês. “Foi uma decisão muito difícil – que nos causa grande dor – porque entendemos perfeitamente a importância [dos eventos] para o Chile e para o mundo”, afirmou Piñera aos jornalistas, culpando as “difíceis circunstâncias” em que o Chile se encontra e dizendo que “a prioridade é restabelecer a ordem”. E acrescentou: “Quando um pai tem problemas, ele tem sempre que pôr a sua família antes de tudo”.
Estima-se que só no sábado um milhão de chilenos tenham saído às ruas de Santiago, capital do país, contra a desigualdade económica, custo de vida e repressão policial – na maior manifestação desde 1990, altura do fim da ditadura de Augusto Pinochet.
Piñera começou por declarar o estado de emergência no dia 18 de outubro, depois da violência ter irrompido no Chile, impondo o recolher obrigatório – entretanto, levantado. Desde o início dos protestos, pelo menos 20 pessoas morreram e entre 3500 e 7 mil pessoas foram detidas.
Depois de agir com mão de ferro para controlar os protestos, Piñera tentou ir ao encontro de algumas exigências. Mas as medidas económicas para combater a desigualdade não convenceram os manifestantes. Piñera, que é bilionário, tentou outra vez e demitiu oito ministros do seu Governo no domingo. Porém quem protesta nas ruas de Santiago exige também a sua demissão – as marchas diárias continuaram.
A APEC é um fórum intergovernamental de 21 países que integram a Ásia Pacífico, do qual são membros a China e os Estados Unidos. Esperava-se que esta cimeira suavizasse as tensões comerciais entre os dois países. A Casa Branca chegou inclusive a dizer que o Presidente dos EUA, Donald Trump, planeava encontrar-se com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, para discutir um possível acordo comercial.
Já da parte da ONU, a secretária-executiva da organização internacional para as alterações climáticas, Patricia Espinosa, disse que estava a “explorar anfitriões alternativos".