«Enquanto o poço não seca, não sabemos dar valor à água».
Thomas Fuller
Nunca tivemos tantos especialistas em ‘PSD’ como nos últimos anos. Uns pelas melhores razões; outros nem tanto. Uns por preocupação genuína com o PSD enquanto trave-mestra do sistema político português; outros por ser apetecível tomar de assalto este partido político para o mudar. E isto ao serviço de novas e diferentes matrizes ideológicas ou para ser mais permeável a ‘interesses’ e corporações públicas, associativas e privadas; para não falar de algumas sociedades consideradas secretas.
O PSD tem sido o partido político mais ‘tratado’, ‘falado’, ‘polemizado’, ‘despido’, ‘escrutinado’, ‘fustigado’ pelas soberbas redes sociais e pelos media. Sobretudo alguns media da área não socialista e sustentados editorialmente por projetos de pendor marcadamente liberal, permeáveis a vários interesses de negócios de amigos acionistas.
A receita é já muito conhecida. Dar palco a uns quantos ‘bons’ laranjas (atuais ou futuros laranjas) que tenham a cartilha certa e diabolizar ou até ferir outros laranjas que estejam fora desse circuito, recorrendo ao insulto, à suspeição ou à ridicularização mentirosa. A completar tudo isso, com a ajuda de alguns amigos da política, do jornalismo e da economia (alguns cristãos novos das empresas…), plantam factos noutros media para desviar atenções.
Em simultâneo deliciam-se em promover tertúlias à porta fechada, em casa ou em restaurantes da moda, com alguns players que ‘financiam’ tudo isto ou que se assumem como os ‘gurus’ dos amanhãs que fazem falta e por quem o povo suspira ofegadamente. Funcionam em circuito fechado, numa espécie de repetição dos eixos Lisboa-Cascais ou Lumiar-São Bento. As suas agendas são condicionadas infelizmente por tudo menos pela verdade ou pela preocupação com o país e com o PSD. Quando estão juntos, levantam de tal forma os pés do chão que acreditam que são os únicos escolhidos para dividir o PSD e depois uni-lo à sua maneira.
Muitos nunca ganharam uma eleição em lado nenhum. Nem uma associação de estudantes, nem uma associação académica, um condomínio, uma freguesia, uma Assembleia Municipal, uma Câmara Municipal. Nada. Nem se lhes conhece especial trabalho de reconhecido serviço público e cívico, no Estado ou fora dele. Mas para quem os ouve ou lê são ‘vacas sagradas’, política, ética e moralmente.
Tudo isto vem a propósito da campanha para a eleição em janeiro próximo do presidente do PSD para o biénio 2020/22. Os media ‘obcecados’ com o PSD e com o seu atual presidente não vão perder mais uma oportunidade de tratarem o PSD ‘à PSD’. Sem tirar nem pôr. Como se de uma guerra civil política se tratasse.
Já aqui aludi ao perigo da sportinguização do PSD. Os portugueses e os eleitores que contam, do país que funciona, cada vez mais olham com desconfiança para estas guerras.
Nestas eleições internas, a tentação do PSD em ser ‘picado de fora’ é grande. Será que as cortes de alguns candidatos se conseguirão segurar e não contribuir para o extremar de posições? Bem sei que só pode fazer a paz quem soube fazer a guerra. E aí está o exemplo do atual presidente do PSD. Venceu as diretas há quase dois anos, foi eleito líder no congresso da sua posse, fez a união com quem tinha derrotado (é só ver a constituição dos órgãos nacionais à época), tendo deixado apoiantes fieis de fora, mas foi permanentemente desafiado. Fez listas de deputados onde incluiu muitos críticos (alguns que apenas estão calados à espera de ver se são escolhidos para vários ‘cargos’ na Assembleia da República…), etc.
Hoje ninguém é consensual dentro do PSD. Nem os dependentes da independência de guerras internas. Para se unir na sua diversidade, o PSD não precisa de palavras mas de ações. E não é qualquer um que o pode fazer. O PSD ‘albergue espanhol’ também não é solução. De dentro do PSD tem-se falado que tivemos cisões à direita. A Aliança de Santana Lopes, o Chega de André Ventura, alguns menos conhecidos para a Iniciativa Liberal. Nalguns deles, os costumes são uma marca positiva diferenciadora para o PSD — que nos últimos anos, com a liberdade de votação nas matérias fraturantes, fez no Parlamento, na prática, uma coligação com o Bloco de Esquerda e o PS.
Mas atenção: os que se têm preocupado ou até incentivado cisões à direita estão distraídos. Porque ou as coisas não regridem e a troika não volta a entrar dentro do PSD, com muitas outras coisas que não fazem falta, ou começam a estar criadas condições para existirem cisões ao centro dentro do PSD. Com condições mais do que suficientes para vingar no país e junto dos portugueses. E isso não acontecer está nas mãos dos candidatos a líderes e dos militantes que irão decidir em janeiro quem será a nova liderança.