O circo desceu à cidade

Vem isto a propósito da insensatez de um tal assessor de uma deputada, que se cobriu de ridículo ao comparecer perante os pares da sua patroa como se fosse para uma festa alusiva ao dia das bruxas.

Quando vou jantar a casa de amigos, mesmo que sejam muito próximos e com quem esteja perfeitamente à vontade, tenho sempre a preocupação de me vestir de forma adequada, independentemente de a etiqueta poder permitir um traje informal.

Faço-o por dois motivos: por uma questão de educação, valor que me foi incutido durante o meu crescimento; e por respeito para com os anfitriões, que se esmeraram para me receberem bem.

Não me apresento em casa desses amigos, como é óbvio, equipado como se fosse jogar uma partida de futebol ou vindo directamente da praia, ainda em fato-de-banho e carregado de sal e de areia.

Cai, assim, por terra, o argumento utilizado por quem pretende branquear comportamentos indecorosos, o de que cada qual veste-se como bem quiser.

Mentira.

A roupa a que devemos recorrer varia consoante a ocasião em que a nossa presença é requerida, sendo que Deus dotou-nos de inteligência suficiente para que possamos discernir uma patuscada com amigos de uma cerimónia de Estado, ajudando-nos, dessa forma, a escolher criteriosamente as vestes com que nos aperaltamos para cada um daqueles momentos.

Vem isto a propósito da insensatez de um tal assessor de uma deputada, que se cobriu de ridículo ao comparecer perante os pares da sua patroa como se fosse para uma festa alusiva ao dia das bruxas.

A Assembleia da República, aprecie-se ou não o real contributo dos deputados da Nação para o engrandecimento desta, ainda é um órgão de soberania, razão pela qual quem lá se desloca, quanto mais se for em missão de serviço público, como foi o caso em questão, deve mostrar respeito e consideração para com aquela casa e para com o que ela representa.

Se o rapaz assessor queria dar um ar da sua graça, ofuscando, aliás, com a sua atitude, a própria pessoa para quem trabalha, que viu o protagonismo que deveria ser apenas dela ser dividido com o seu assalariado, deveria ter escolhido outro local e outra solenidade para se manifestar.

E mal na fotografia ficaram também quantos sairam em defesa do desajuizado rapaz, a começar pelo autarca da capital, que veio a terreiro comparar as saias que aquele envergou com as que D. Afonso Henriques exibia nos campos de batalha.

Já agora recomenda-se ao engraçadinho edil que tome medidas para excluir o uso de talheres nas cantinas do Parlamento, porque era com as mãos que o nosso primeiro Rei comia, bem como todos quantos lhe sucederam ao longo de séculos, forma de comer que pode muito bem ser adoptada igualmente pelos nossos parlamentares.

Muitos, certamente, nem teriam de fazer um esforço de aprendizagem, porque, bem desconfio, já estarão familiarizados com essa prática!

Naturalmente que a gravidade deste caso é relativa, porque estamos perante um simples assessor, o qual não foi mandatado pelos portugueses para coisíssima alguma.

Grave mesmo é o facto de nas cadeiras do hemiciclo se sentarem diversas criaturas, cujo denominador comum é militarem na extrema-esquerda burguesa, que insistem em confundir rebeldia com má-educação, usando e abusando da imagem de marca que ostentam, que mais não passa do que de uma veste imprópria e rasca para o exercício de funções de enorme responsabilidade para as quais foram eleitos.

E estupidamente fazem gala em se vestirem como pedintes, simulando origens humildes que, na verdade, lhes são estranhas, parecendo desconhecer que mesmo o mais remediado dos seres íntegros e respeitadores do comportamento em sociedade faz questão de procurar no armário o melhor que tem, para comparecer com dignidade num acto mais formal a que não se possa furtar.  

Numa qualquer empresa o menos qualificado dos funcionários tem que se vestir a preceito, mas um deputado pode dar-se ao luxo de se apresentar no trabalho como se estivesse a comer caracóis numa taberna do seu bairro, na companhia de amigalhaços.

Desengane-se, infelizmente, quem pense que esta moda é um exclusivo cá do burgo.

Basta ver como o milionário líder da esquerda radical do país vizinho se apresenta perante o Rei. Veste o seu melhor fato de palhaço e desloca-se para o Palácio Real da mesmíssima maneira como o faria se tivesse como destino um circo itinerante e como missão distribuir risos pelas crianças ansiosas de se divertirem com palhaçadas!

É esta a política de causas que a esquerda de caviar, em qualquer parte do mundo, tem para nos oferecer.