O Parlamento deverá avaliar esta semana o pedido do Livre para que seja dada tolerância de tempo nas intervenções de Joacine Katar Moreira. A gaguez da nova deputada entrou no debate político, principalmente depois das primeiras intervenções na Assembleia da República, mas o Livre rejeita que esta situação possa limitar a transmissão da mensagem.
Até agora tem sido dada tolerância de tempo à deputada, mas vários comentadores e ex-deputados consideram que a gaguez de Joacine impede o Livre de passar a mensagem. “Se há dificuldades de comunicação a mensagem não passa. É um problema sério. O Livre vai ter de encontrar uma saída”, afirmou Marques Mendes, na SIC. João Miguel Tavares, no programa Governo Sombra, na TVI, também considerou que a situação “é insustentável” e até sugeriu uma alteração ao regimento da Assembleia da República para que a deputada pudesse contar com “uma espécie de porta-voz”.
O ex-deputado socialista João Soares abordou o assunto nas redes sociais. Num post sobre o debate do programa do Governo, João Soares admitiu que a situação pode tornar-se “muito difícil” se a deputada não conseguir reduzir os seus problemas de gaguez.
Ao i, Vasco Ribeiro, professor e investigador na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, considera que pode existir “um problema de comunicação” por causa da gaguez da deputada, mas, por outro lado, “acaba por diferenciar”. O professor de ciências da comunicação realça que “toda a gente está a falar desta deputada” e “a atitude dela bate certo com os objetivos do partido”.
O Livre rejeita que a gaguez de Joacine Katar Moreira possa tornar a mensagem menos eficaz. “Não nos parece que seja um problema. As sondagens duplicaram o resultado do Livre [nas eleições legislativas do dia 6 de outubro ]”, diz Rafael Esteves Martins, assessor de Joacine Katar Moreira.
O assunto nunca foi ignorado pelo partido e a própria deputada apelou aos eleitores, na campanha eleitoral, para que votassem “sem preconceito”. A deputada do Livre, em declarações à Lusa, garantiu, ontem, que vai “manter, naturalmente, todas as funções” no Parlamento. Joacine Katar Moreira considera que “a mensagem irá ser compreendida, independentemente de gaguejar ou não”. A nova parlamentar lembrou ainda que os portugueses que votaram nela já sabiam que “gaguejaria”.
Dois minutos
O Livre pediu para que Joacine possa dispor de dois minutos nas suas intervenções em vez de um minuto, o tempo previsto no regimento da Assembleia da República. “Consideramos que para haver um tratamento igualitário e igualdade de oportunidades, tem de haver uma tolerância de tempo”, disse Paulo Muacho, que pertence à direção do Livre.
A proposta do Livre deverá ser discutida em conferência de líderes ainda durante esta semana e o mais provável é que seja concedida tolerância de tempo.
“Ninguém pode exigir que eu, de repente, passe a explicar-me com objetividade para satisfazer o incómodo que origino a alguns. Da mesma maneira, não podem exigir que deixe de gaguejar de uma hora para outra com o objetivo de acalmar os espíritos mais revoltosos e que têm imensa dificuldade em relacionar-se com igualdade”