José Sócrates reagiu à libertação de Lula da Silva. Num artigo intitulado ‘Sei que está em festa pá’, o antigo primeiro-ministro destaca que a saída da prisão do líder histórico do Partido dos Trabalhadores (PT) representa uma “reentrada no mundo”.
“Não foi uma saída da prisão, mas uma reentrada no mundo. No mundo, literalmente: Televisões em direto e primeiras páginas dos jornais. Um simbolismo extraordinário. Regressado da provação, Lula da Silva entra em palco com firmeza e de coração limpo. O que mais impressiona é a energia – vem para lutar, não para se reformar. Vem sem ressentimento, mas sabe também o que não pode voltar a acontecer", escreveu José Sócrates, no artigo publicado esta sexta-feira na revista brasileira Carta Capital, e citado pela agência Lusa.
De acordo com Sócrates, em Portugal a maior parte das reações à libertação de Lula foram em tom “de regozijo”, uma vez que, na sua opinião, "muitos portugueses já conhecem a fraude judicial e a miserável conduta de um juiz [Sérgio Moro] que, para chegar a ministro, instrumentalizou a sua função, colocando-a ao serviço de uma caçada política".
Por outro lado, o antigo secretário-geral do PS comenta também a “indiferença” dos socialistas face ao acontecimento, justificando que o partido está “grávido de Estado” e que “já nada o impressiona nesta história de direitos constitucionais”.
“Na política institucional, o costume: O Partido Comunista e o Bloco de Esquerda saudaram a libertação, a direita institucional calou-se e o PS mostrou indiferença", sublinhou, criticando depois o eurodeputado do PSD Paulo Rangel. “Pelo caminho ainda vi na televisão um deputado europeu vomitando ódio contra Lula, dizendo que este é, sem dúvida, corrupto – só que não têm provas. Parece que é jurista. Como veem, não são só os brasileiros que tem que lidar com pulhas", afirmou.
José Sócrates realçou ainda a importância da libertação de Lula da Silva, devido às injustiças que levaram à sua prisão. “Vem da história do golpe, da Presidenta [Dilma Roussef] destituída sem crime de responsabilidade, como se o regime fosse parlamentar e não presidencial. Vem da história da Lava Jato, operação judiciária que se revelou ser o instrumento e a oportunidade para criminalizar todo um partido e perseguir o seu líder histórico. Vem da história da singular condenação de corrupção por factos indeterminados e da prisão em violação da Constituição", sustenta.
"Rodeados de uma linguagem ameaçadora e belicista e com o antigo Presidente preso, os dirigentes e militantes do partido lutaram e lutaram e lutaram para defender o seu património de governação e a ímpar transformação social conseguida na economia, na distribuição de riqueza, nas oportunidades educativas, na redução das desigualdades, na inclusão social, na afirmação do Brasil como uma nova e jovem voz na cena da política internacional", elogiou, depois de criticar a direita "unida”, “moderada” e “extremista”, a “agressividade da imprensa” e a “vergonhosa parcialidade do aparelho judiciário”.
“Agora que o seu líder histórico dá um pequeno passo para a liberdade, tudo muda e o país parece outro. Fico contente", rematou o antigo primeiro-ministro.