Em resposta aos protestos instigados pela subida do preço dos combustíveis, o Irão tomou uma medida drástica e bloqueou este sábado o acesso à internet, segundo o observatório de cibersegurança NetBlocks. Há sinais de que a onda de descontentamento está a transformar-se num movimento geral contra a República Islâmica.
Diz o New York Times que os três dias de protestos já vitimizaram pelo menos seis pessoas, citando meios de comunicação persas – o Governo fala em duas mortes, segundo a Al-Jazira. À meia noite de sexta-feira, o Governo anunciou o corte dos subsídios aos combustíveis, uma decisão que leva a uma subida de 50% no seu preço. Numa economia fustigada pelas sanções norte-americanas, esta medida representou a gota de água para muitos iranianos.
No sábado, as pessoas saíram às ruas para manifestações inicialmente pacíficas, mas a violência acabou por brotar em várias situações. Os protestos alastraram-se por dezenas de cidades e no bairro de classe média Tehranpars, em Teerão, ouviram-se gritos contra o regime. “Não queremos uma República Islâmica, não queremos, não queremos”. Em vários locais, bloquearam estradas, utilizando os seus carros e sentando-se por horas a fio no chão.
Um pouco por todo o país, os manifestantes entraram em confrontos com a polícia – que lançou gás lacrimogéneo para dispersá-los – e queimaram imagens do Líder Supremo do Irão, o aiatola Ali Khamenei, crime punível com a pena de morte. Os insultos a Khamenei são recorrentes.
Diz o New York Times, que em cidades como Behsahr, Shiraz, Teerão e Karaj, algumas propriedades do Governo foram atacadas, incendiados bancos, a bandeira nacional rasgada e monumentos da Revolução de 1979 queimados.
Citado pelo jornal norte-americano, o ministro do Interior do Irão, Abdolreza Rahmani Fazli, disse que os manifestantes trocaram tiros com a polícia em Sirjan, cidade a 800 quilómetros da capital iraniana, na sexta-feira. A Associated Press relata que os manifestantes tentaram chegar a um depósito de petróleo, citando fontes governamentais. A polícia de choque tem combatido as multidões de moto ou a pé. Em Karaj e Shiraz, as forças de segurança abateram a tiro dois jovens ao alvejá-los na cabeça.
Dada a escala dos protestos, o Governo cortou quase totalmente a “internet nacional”, diz o NetBlocks: os “dados de rede em tempo real mostram uma conectividade a 7% dos níveis comuns depois de 12 horas de desconexões de rede progressivas”.
Khamenei, por sua vez, apoiou a decisão do Governo este domingo e culpou os inimigos externos pelas manifestações, defendendo tratar-se de uma sabotagem. “Algumas pessoas estão preocupadas com esta decisão (…) mas a sabotagem e os incêndios criminosos são feitos por hooligans e não pelo nosso povo. A contrarrevolução e os inimigos do Irão sempre apoiaram sabotagens e violações de segurança. Continuam a fazê-lo”.
O Governo já deteve cerca de 40 pessoas na cidade de Yazd, segundo o Guardian. E o ministro do Interior afirmou a uma estação estatal que as forças de segurança têm agido com “restrição”, mas que irá restaurar a calma caso os manifestantes continuem a danificar as “propriedades públicas”.
O iranianos, especialmente aqueles que auferem baixos e médios salários, já sofreram um duro golpe com a crise cambial e onda inflacionária que se formou depois das sanções económicas impostas por Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, depois da sua retirada unilateral do acordo nuclear de 2015.