Escola Digital, Estado Digital, Europa Digital

O compromisso digital tem de ser firmado com metas e prazos para alcançar crescimento económico significativo.

Hoje, os fundos europeus disponíveis para a transição digital são uma oportunidade única. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, firmou o compromisso de «assegurar todos os fundos necessários à nossa disposição» para capacitar as pessoas com competências digitais, particularmente no campo da inteligência artificial. Temos também o mais ambicioso programa de investigação e inovação de sempre gerido pelo nosso ex-comissário, Carlos Moedas.

Mas corremos um risco. 

No fim do frenesim da distribuição dos fundos, podemos não conseguir deixar alterações significativas para as próximas gerações. Temos de estabelecer compromissos para a transição digital, firmados por metas e prazos, começando pela fundação de uma Escola Digital, a construção de um Estado Digital e a consolidação de uma Europa Digital

Uma Escola Digital será para todos os cidadãos, dos 0 aos 100 anos de idade, menos focada em passar graus e mais determinada em desenvolver competências. Hoje, a inovação pode vir de qualquer pessoa, esteja ela no seu percurso escolar, académico, ou científico, esteja há 10 anos desempregada, esteja presa a um trabalho onde não vê possibilidade de progredir, esteja em casa a tomar dos filhos ou dos pais. Temos de garantir a meta de formar 10% da população ativa até 2025 com as competências elementares de tecnologias digitais em particular de Inteligência Artificial. Uma Escola Digital tem de complementar, sem descurar, o sistema tradicional de ensino onde o enfoque deve estar nas competências multidisciplinares. A multidisciplinaridade será sempre a base, tanto para mercados de trabalho ainda por nós desconhecidos, como para estruturar o pensamento crítico, primeira e última defesa da pessoa quando todos, até governos, espalham com uma velocidade inédita notícias falsas.

O Estado Digital dever ter como meta a plena digitalização de todos os serviços até 2030. A tecnologia digital é a arma que precisamos para atacar de frente a burocracia e a corrupção, eliminando redundâncias, introduzindo eficiência e, acima de tudo, transparência. Mais do que subsídios, o que a maioria dos empreendedores precisa é que o Estado burocrático lhes saia da frente, focando-se na dupla responsabilidade de assegurar equidade e transparência e de não deixar cair os que estão a ficar para trás. 

A Europa Digital não são só fundos. Nas movimentações mundiais geopolíticas a que assistimos, o espaço Europeu a que pertencemos, centrado na defesa da dignidade da pessoa, apresenta-se como a melhor bandeira de princípios éticos necessários para salvaguardar a privacidade de cada um de nós. Hoje, a partilha de dados é a regra e o lugar onde se armazenam estes dados são um calcanhar de Aquiles. É determinante construir uma política de localização dos dados estratégicos para Portugal, garantindo que o seu armazenamento permanece na segurança do espaço Europeu.

O compromisso digital tem de ser firmado com metas e prazos para alcançar crescimento económico significativo, melhorando os salários das pessoas e anunciando aos nossos melhores talentos que este país também é para quem quer ser mais. Não podemos perder esta oportunidade para levantar Portugal.