25 de Novembro. Uns celebram-no, outros ignoram-no

Ação militar que pôs fim ao PREC ocorreu há 44 anos. Opiniões sobre comemorações dividem-se.

Assinalam-se hoje 44 anos do 25 de Novembro, o golpe que pôs fim ao Processo Revolucionário em Curso (PREC), dando origem a uma democracia pluralista. E se há quem queira celebrar esta data, outros preferem não comemorar algo que divide opiniões.

É o caso de Vasco Lourenço. O militar de Abril defendeu que “as datas que dividem não devem ser comemoradas”. “Os acontecimentos e as datas que unem devem ser comemorados, caso do 25 de Abril, e os acontecimentos e as datas que dividem não o devem ser, mas apenas recordados para com eles aprendermos. Sou adepto da comemoração do 25 de Abril e sou contra a comemoração do 25 de Novembro”, refere Vasco Lourenço, numa resposta enviada à agência Lusa.

“Além do facto de muitos capitães de Abril ainda não terem sido condecorados, apesar da sua ação relevante no 25 de Abril (conspiração e operação militar), pergunto: quem está em condições, isto é, tem competência para decidir sobre quem deve ser condecorado?”, questiona, fazendo assim referência a uma das propostas do CDS, que tem com objetivo a distinção dos militares envolvidos no 25 de Novembro.

Esta mensagem de Vasco Lourenço surge depois de na sexta-feira o Parlamento ter aprovado o voto de saudação apresentado pelo CDS-PP pelo 44º aniversário da operação militar. A iniciativa foi aprovada com o apoio do PSD, Iniciativa Liberal e Chega, bem como dos socialistas João Ataíde, João Paulo Pedrosa, Pedro Cegonho, Ascenso Simões, Sérgio Sousa Pinto, Hortense Martins e Marcos Perestrelo. PS, PAN e Livre abstiveram-se e o Bloco de Esquerda e o PCP votaram contra.

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“Comemorar o 25 de Novembro, data a que a esmagadora maioria dos democratas adere, é reafirmar o compromisso desta câmara com os princípios universais da liberdade de expressão, do pluralismo partidário e das eleições livres. A 25 de Novembro de 1975, o povo português colocou-se do lado da liberdade contra a tentativa de substituir uma ditadura por uma outra de sinal contrário”, referia a proposta do CDS-PP.

Ao i, Telmo Correia já tinha lembrado que o CDS celebra sempre esta data: “o CDS é o único partido que, desde a data histórica, faz todos os anos na Amadora um jantar evocativo do 25 de Novembro. Até agora éramos o único partido que o fazia. Se alguém também o fizer, não acho mal”.

E este ano não será mesmo o único: hoje, o Chega irá celebrar, num auditório da Assembleia da República, os 44 anos do 25 de Novembro. Trata-se de uma “cerimónia evocativa do dia em que os elementos do Regimento de Comandos da Amadora, liderados pelo Coronel Jaime Neves, evitaram que Portugal fosse definitivamente entregue pelo líder da COPCON, Capitão Otelo Saraiva de Carvalho a um regime à semelhança da URSS, transformando-se futuramente numa Cuba, Venezuela ou Coreia do Norte europeia! Foi exatamente a 25 de Novembro de 1975 que Portugal conseguiu sair do jugo comunista a que estava votado, livrando-se da privação da liberdade democrática que hoje, apesar de tudo, ainda vamos vivendo”, descreve o Chega, num comunicado divulgado no Facebook.

“De referir ainda que apesar de muito nos honrar o facto de, quer o Senhor Presidente da República, quer alguns outros partidos políticos terem de há algum tempo para cá começado a criar as suas agendas em função da agenda política do Partido Chega – tantas vezes na desesperada mas infrutífera tentativa de nos abafar – é triste que só agora e claramente à pressa tenham decidido promover iniciativas comemorativas do 25 de Novembro!”, acrescenta o partido liderado por André Ventura.

Também a Iniciativa Liberal (IL) irá comemorar esta data: “nos últimos dois anos participámos nas celebrações públicas na Avenida da Liberdade no 25 de Abril e desde o ano passado que organizamos a Festa da Liberdade para celebrar o 25 de Novembro e enaltecer os feitos do Regimento de Comandos da Amadora e a liderança e o papel do Coronel Jaime Neves. O ano passado, a Festa da Liberdade decorreu no Porto e este ano será em Oeiras (na Fábrica da Pólvora), e é uma festa aberta a qualquer português que queira celebrar a Liberdade”, disse ao i fonte oficial do partido, cujo cartaz para assinalar esta data tornou-se viral na internet.  João Cotrim de Figueiredo disse à Rádio Renascença  que o outdoor – onde se pode ler “25 de Novembro Sempre. Comunismo nunca mais” – tem como objetivo combater a “cobardia histórica” dos deputados socialistas e o “desrespeito” por algumas figuras, como Mário Soares.