O secretário de Estado dos Transportes de Passos Coelho, Sérgio Monteiro, vai ser ouvido pelo juiz Ivo Rosa na quarta-feira da próxima semana, 4 de dezembro, no âmbito da instrução do processo Marquês. Em causa está o facto de Sérgio Monteiro ter estado na Caixa BI quando foi prestada uma garantia bancária por este banco relativa ao programa de procedimento do concurso para a concessão da ligação de TGV entre Lisboa e Madrid, que acabou por não avançar. O ex-governante terá mesmo tido intervenção nesse processo de financiamento do consórcio Elos, do qual fazia parte o Grupo Lena.
No despacho a que o i teve acesso pode ler-se: “Da análise feita aos autos […] resulta que Sérgio Paulo Lopes da Silva Monteiro teve intervenção na garantia bancária prestada pelo banco de investimento Caixa BI no âmbito do procedimento relativo ao concurso para a concessão RAV Poceirão Caia”.
Além disso, afirma-se, “as testemunhas Paulo Campos, Carlos Alberto Fernandes e Pedro Manuel Nascimento referiram a pessoa de Sérgio Paulo Monteiro como estado ligada ao processo de financiamento do consórcio Elos”.
Por tudo isto, o juiz Ivo Rosa considerou ser “relevante” a audição do antigo secretário de Estado como testemunha, reservando a tarde do dia 4 de dezembro – a diligência começará às 14h.
Santos Silva interrogado Recorde-se que José Sócrates foi o último arguido a ser interrogado, tendo negado qualquer favorecimento seu ao consórcio que ganhou o concurso, nomeadamente ao Grupo Lena. E esta quarta-feira começa a ser interrogado Carlos Santos Silva, empresário e amigo do ex-primeiro-ministro.
O ex-administrador do Grupo Lena e arguido neste processo é considerado pelo Ministério Público como o testa-de-ferro de José Sócrates, ou seja, como o homem que guardava milhões que alegadamente pertenciam ao ex-primeiro-ministro.
Era Santos Silva quem pagava as férias de José Sócrates e lhe fez empréstimos a partir de 2013 – dinheiro que os investigadores acreditam ser na verdade do ex-primeiro-ministro.
Foi nos últimos dias de interrogatório, no início deste mês, que o magistrado do Tribunal Central de Instrução Criminal confrontou o ex-primeiro-ministro com as avultadas quantias pagas pelo seu amigo Carlos Santos Silva relativas às viagens. Sócrates contestou que fosse o amigo a pagar tudo, revelando um alegado cofre na casa da mãe onde esta guardava a sua herança – um dado que até hoje nunca havia sido comunicado pelo ex-governante.
Sócrates disse ainda que tinha noção de que Santos Silva, que considera um homem “honestíssimo”, tinha posses: “Acho que ele tinha possibilidades para isto e para muito mais. Eu tinha a ideia de que ele era um homem rico”.
O antigo governante disse ainda que era ele, por seu turno, que custeava as despesas durante as férias, como as refeições, tanto suas como do amigo. E fazia-o, garante, com o dinheiro que a mãe lhe dava.
Caso Marquês O Ministério Público, através do departamento que investiga a criminalidade mais complexa – o DCIAP -, acusou 28 arguidos, 19 pessoas singulares e nove pessoas coletivas, no âmbito da designada Operação Marquês, em 2017. José Sócrates está acusado de crimes de corrupção passiva de titular de cargo político (três crimes), branqueamento de capitais (16 crimes), falsificação de documento (nove crimes) e fraude fiscal qualificada (três crimes). A instrução é uma fase facultativa cuja abertura é pedida pelos arguidos e na qual um juiz de instrução, neste caso Ivo Rosa, decide se há ou não indícios suficientes para se avançar para julgamento, como defende a acusação.