Carlos Santos Silva disse hoje ao juiz Ivo Rosa que emprestou a casa de Paris ao amigo José Sócrates quando este foi estudar para a capital francesa, uma tese idêntica à do ex-primeiro-ministro. Segundo Santos Silva o contrato só foi celebrado em 2014 – dois anos após estar na habitação – por exigência de José Sócrates. Questionado por Ivo Rosa se tal acontecera devido às notícias que davam conta de que o apartamento estava a ser investigado, Santos Silva rejeita, mas admite que a motivação era precaver-se de qualquer questionamento futuro, algo que José Sócrates também havia dito no seu interrogatório.
Aliás, o ex-primeiro-ministro foi mais longe e disse que apesar de o contrato ter sido celebrado á posteriori – o que para o MP significa que fora forjado para enganar a investigação – não significava que não pretendesse pagar as mensalidades desde 2012. Bem pelo contrário disse o ex-primeiro-ministro, adiantando, no entanto, que depois de tudo o que se passara nos últimos cinco anos Santos Silva o informara que não aceitaria receber os cerca de 18 mil euros de rendas. Isto até porque o empresário sempre se opusera, conta Sócrates, ao pagamento de tais rendas, talvez para não se maçar.
Recorde-se que para o MP a casa de Paris pertence a Sócrates. Os investigadores baseiam-se inclusivamente em escutas em que Sócrates fala das obras como sendo o proprietário do imóvel.
Quanto às casas que adquiridas por Carlos Santos Silva à mãe de José Sócrates, o empresário explicou que fora por intermédio do irmão do ex-primeiro-ministro que soube que as mesmas estavam à venda. E adiantou que fora Gonçalo Trindade Ferreira a representar as duas partes, ou seja, vendedores e compradores.
Esta tarde, Carlos Santos Silva voltou ainda a dizer ao juiz Ivo Rosa que pagava a lobistas no estrangeiro, justificando que era para isso que tinha dinheiro vivo num cofre do BCP – a caixa forte n.º 54 da agência Fonte Nova Prestige do Millenium BCP – em nome do advogado Gonçalo Trindade Ferreira. Disse ainda que o cofre ficara em nome do advogado, uma vez que a mulher não tinha disponibilidade para tal. Em julho de 2014 Gonçalo Trindade Ferreira alugou um cofre por indicação de Santos Silva para que fosse colocado lá dinheiro que o ex-administrador do Grupo Lena tinha num cofre do Barklays. Durante as buscas foram apreendidos 200 mil euros que estavam nesse cofre. A investigação acredita que o aluguer deste cofre em nome do advogado era para driblar os trabalhos do Ministério Público.