Foi criado por uma pessoa de Esquerda, mas isso não condicionou de forma alguma as suas visões políticas. João Pinho de Almeida desde cedo se assumiu como um homem de direita e nunca mais vacilou. Está na corrida à liderança do CDS-PP, partido que apoia há mais de 25 anos.
Nascido em 1976, em São João da Madeira, João Almeida cresceu num meio onde se discutiam assuntos relacionados com político e onde todos podiam expressar a sua opinião. «A minha mãe era mais de direita, mas o meu pai era de esquerda, mais à esquerda do que o PS. Incutiu-me sempre a importância da participação democrática», recorda o deputado, numa conversa com o SOL. Era ainda criança quando percebeu que existia, de facto, uma apetência pela política – gostava de ver os tempos de antena na televisão e de falar com o pai sobre o que as figuras políticas da altura diziam. «Em pequeno, quando me perguntavam o que queria ser quando fosse grande, eu dizia normalmente duas coisas: ou jogador de futebol ou deputado na Assembleia da República. E achava seria muito mais fácil ser jogador de futebol» por a política ser algo tão distante, afirma.
Mas o futuro acabou por ser muito diferente daquilo que estava à espera. O pai incentivou-o a entrar na vida política, independentemente da ideologia defendida, mas pediu-lhe que esperasse até aos 18 anos, para amadurecer as ideias. Não aguentou esperar tanto e aos 17 anos inscreveu-se na juventude centrista. «Fui sozinho ao Largo do Caldas [em Lisboa, onde fica a sede do CDS-PP] e inscrevi-me. Não fui por influência de alguém, de algum amigo. Filiei-me sozinho, por vontade própria», diz.
Recorda os tempos na Juventude Popular – da qual foi presidente entre 1999 e 2007 – como tempos de «abertura» em que conheceu mais pessoas que defendiam os mesmos princípios e ideias. E rapidamente começou a dar nas vistas e a assumir um papel ativo no partido: «A primeira vez que participei num debate televisivo ainda não votava – foi um programa do Luís Osório na RTP2 sobre jovens políticos que ainda não votavam. Lembro-me de alguns intervenientes como o atual secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, e Jorge Costa, que hoje é deputado do Bloco de Esquerda e na altura representava o PSR».
Foi crescendo dentro do CDS. Foi deputado municipal em São João da Madeira, adjunto da vereadora Maria José Nogueira Pinto na Câmara Municipal de Lisboa e, em 2002, entrou pela primeira vez na Assembleia da República como deputado. «Durante muitos anos achei que este dia não seria possível. Sentei-me numa bancada onde estava uma pessoa que me habituei a ver desde miúdo na bancada do CDS, o professor Narana Coissoró. Não posso sequer dizer que tivesse o sonho de me sentar ali, porque achava tudo tão distante que nem tinha esse sonho», conta ao SOL.
A partir daí, foi crescendo no mundo da política. E conta com um currículo extenso: diversas comissões e esteve envolvido em vários casos importantes, como o Inquérito ao negócio PT/TVI, ao BPN, aos Contratos SWAP, à Tragédia de Camarate e à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e à gestão do banco.
Ao longo destes anos a correr pelos corredores da Assembleia da República, existem dois momentos que recorda com especial carinho. «O primeiro foi quando em representação do CDS fiz o discurso do 25 de Abril. É normalmente o discurso que um deputado faz uma vez na vida e eu fi-lo muito cedo, julgo que em 2003. Se não me engano, fui o primeiro deputado nascido depois do 25 de Abril a fazer o discurso deste dia por um partido político. O segundo foi a aprovação por unanimidade do relatório que fiz da comissão de inquérito da CGD, porque também é inédito um ter um relatório aprovado por unanimidade numa comissão de inquérito relativa ao sistema financeiro. Foi um documento reconhecido quer dentro quer fora do Parlamento como sendo um relatório conclusivo. Foi algo que me realizou e que deu muito sentido ao trabalho parlamentar que realizo em qualquer circunstância, seja no apoio à maioria do Governo seja na oposição», diz ao SOL.
Mas nem tudo são rosas. Houve momentos da vida política que levaram João Almeida a vacilar. «Há momentos em que temos as nossas desilusões. A votação dos orçamentos do Estado no período da troika é um deles. Como deputado que apoiava o Governo, empenhei-me muito em conseguir um equilíbrio entre aquilo que eram as restrições que nos eram impostas pelo memorando de entendimento e aquilo que sentia que era a necessidade de representar os cidadãos e isso muitas vezes não era possível, o que me levou a fazer uma declaração de voto muito no orçamento de 2012 para 2013, do Governo de que fazia parte o CDS, dizendo que só tinha votado a favor porque considerava que votar de outra forma poderia ter consequências piores do que votar a favor, mas discordava profundamente de algumas das soluções».
Fora da política, é conhecido pela paixão pelo futebol. Em 2010, tornou-se presidente do Belenenses, o clube do coração. «Sou do Belenenses desde sempre. Fui atleta e sou adepto desde sempre. A partir do momento em que surgiu este projeto, encarei com naturalidade o facto de me candidatar. Não podia dizer que não a esta dedicação ao clube», disse na altura da candidatura.
Agora, o futebol está menos presente na sua vida: «vivo em São João da Madeira e isso causa uma natural distância em relação ao Belenenses. Sou dirigente da Associação Desportiva Sanjoanense e uma modalidade que acompanho é o hóquei em patins, mas procuro dedicar o tempo que tenho livre à família», diz ao SOL. Os tempos de noitadas e de exageros também já lá vão – em 2010 a imprensa revelou que foi apanhado pelas autoridades a conduzir com excesso de álcool no sangue. Agora, o tempo é dedicado aos filhos, à família e aos amigos mais próximos. Pelo meio, vai conseguindo ouvir a música que gosta – continua a gostar das bandas de hard rock que ouvia na infância, como Nirvana e Smashing Pumpkins -, ver os filmes que aprecia – considera Woody Allen o realizador mais genial dos contemporâneos – e a pôr as leituras em dia – Pedro Paixão e Herman Hesse estão entre os favoritos, mas agora está a ler o best-seller Sapiens, de Yuval Noah Harari. «Gosto de viajar, de ler sobre outras culturas, de cozinhar e de fazer muitas outras coisas. Não sou um político 24 horas», conclui.