OPA no Benfica ‘dá’ 25 milhões a quatro empresários

Além de Luís Filipe Vieira, que pode vir a receber mais de 3,7 milhões com a venda das suas ações, também os empresários José António dos Santos, José Guilherme, Joaquim Oliveira e os donos da Quinta de Jugais vão recuperar milhões com esta OPA.

A par do presidente do Benfica, há quatro empresários que podem ganhar com a Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada pelo clube sobre a SAD benfiquista, um total de cerca de 25 milhões de euros. José António dos Santos (um dos nomes do Grupo Valouro) detém 12,7% da SAD, o construtor José Guilherme – que esteve envolvido na célebre ‘liberalidade’ de 14 milhões a Ricardo Salgado – conta com 3,7%, a Olivedesportos (do empresário Joaquim Oliveira) com 2,7% e a Quinta de Jugais, empresa de cabazes de Natal e doces de Coimbra (detida  em 50% por António Manuel Alves Martins e em 50% por Pedro Luís Alves Martins), com 2%, são os quatro maiores acionistas da SAD do Benfica, de acordo com o último relatório e contas que foi apresentado. Só estes quatro empresários poderão encaixar cerca de 25 milhões de euros.

Mas vamos a números. Só José António Santos poderá ganhar cerca de 15 milhões se vender a totalidade das suas ações (2.922.387). Já José Guilherme pode vir a receber quase 4,3 milhões no caso de vender  todos os seus títulos (856.900), enquanto a Olivedesportos poderá encaixar cerca de três milhões (detém 612.283). Também a Quinta de Jugais pode vir a ganhar 2,3 milhões de euros (conta com 460.926 ações). 

A estes nomes há que juntar ainda outros pequenos acionistas que compraram títulos em 2001. Também Luís Filipe Vieira, assim que abandonar as funções de presidente do Benfica, poderá encaixar mais de 3,7 milhões de euros, no caso de querer vender a sua participação assim que sair da liderança do clube.

Em causa está uma OPA parcial, em que são oferecidos cinco euros por ação. O clube, que detém atualmente 66,9% da SAD, pretende adquirir o equivalente a mais 28,06% do capital. Uma operação que envolve 32,3 milhões de euros e que está a ser levada a cabo pelo Haitong Bank como intermediário financeiro. E que é considerada superior «à cotação média ponderada das ações da Benfica SAD no período de seis meses anterior à divulgação do anúncio preliminar da oferta», bem como à «cotação intradiária mais elevada das ações da Benfica SAD no período de seis meses anteriores» à OPA, revelou esta semana a SAD do clube, considerando ainda a oferta como «oportuna».

Bom ou mau negócio?

O SOL sabe que esta solução do clube de deter cerca de 95% do capital poderá permitir futuramente vender parte a um ou vários acionistas de referência, se assim o entender. A ideia poderá passar por alienar entre 20 e 25% das ações, seguindo o exemplo do que fez o Bayern Munique.

Os analistas contactados pelo SOL admitem que o valor de cinco euros agora oferecido representa quase o dobro do preço que as ações estavam a negociar no mercado no momento em que é lançada a OPA.

Para David Silva, da Infinox, «tendo em conta que as ações da Benfica SAD estavam a negociar por volta dos 2,70 euros nos dias anteriores ao lançamento da OPA e o seu máximo dos últimos nove anos tinha sido alcançado em março de 2009, ao chegar aos 3,50 euros, na altura em que o Benfica estava perto de voltar a ser campeão ao fim de cinco anos, creio que o valor de cinco euros não se enquadra face àquilo que estava a ser oferecido pelo mercado» e lembra que «este valor baseia-se no preço por ação tendo em conta o capital social de 115 000 000 euros e de modo que os sócios que subscreveram as ações em 2001 por mil escudos possam reaver o seu investimento».

A opinião é partilhada pelo analista da XTB André Silva, que lembrar que os cinco euros que são oferecidos representam quase o dobro do valor a que as ações estavam a ser cotadas no dia anterior ao anúncio e que rondavam os 2,7 euros por título. «Se a OPA for bem-sucedida, o clube pagará cerca de 32 milhões de euros aos investidores. O valor oferecido, de cinco euros por ação, é precisamente o preço a que os acionistas adquiriram as ações em 2001, aquando da entrada das ações em bolsa. Nessa linha, podemos considerar ser um preço justo», mas acrescenta: «as ações de clubes futebolísticos em geral beneficiam de um efeito de valorização que não tem nada a ver com o valor fundamental das empresas, mas sim da apetência dos adeptos, da sua vontade de participar de alguma forma».
 
Desfecho no início do ano

A operação deverá estar concluída no início do próximo ano mas ao que o SOL apurou, o regulador não deverá colocar entraves e a OPA deverá ser «bem-sucedida».

Para David Silva, como  «a oferta está bem acima da cotação atual no mercado, o que poderá permitir um bom encaixe a quem tenha adquirido as ações a um valor mais baixo e também reaver o seu investimento». Já André Pires defende que os acionistas têm sempre a opção de não vender, apesar de considerar que o «preço é muito aliciante».

Quanto à possível saída de bolsa, os analistas admitem que a Benfica SAD deverá continuar cotada, mantendo pelo menos 5% de capital disperso, dos quais, quase 3% pertencem a Vieira. Mas o SOL sabe que a ideia é manter em bolsa o capital, já que é isso que irá permitir ao clube continuar a financiar-se

«As vantagens de permanecer em bolsa são duas: política, já que esta dispersão mínima (exigida para se manter em bolsa) é valorizada pelo mercado por efeitos de transparência e credibilidade, e financeira, porque facilita eventuais emissões de obrigações», refere André Pires. Também para David Silva, «apesar de apenas 5% das ações da Benfica SAD ficarem disponíveis no mercado, a empresa não deixará de estar cotada na bolsa de Lisboa, uma vez que esse fator permite que a empresa continue a financiar-se através de obrigações», conclui.