Comecemos então por aqui. Prémios oferecidos em OPA’s! Comecemos pela própria SAD: Berardo fez em 2007 uma oferta de 3,5 Euros por ação, na altura inferior em cerca de 11% à cotação média das semanas anteriores como alegou (e bem) a Administração da SAD do Benfica. De seguida, vamos à famosa OPA da Sonae à PT em que Belmiro de Azevedo ofereceu 9,5 Euros por ação (e 5000 Euros por obrigação, complementada por outra à PT Multimédia de 9,03 Euros por ação) em que o prémio foi de 17% sobre a última cotação (ou 22% se fossem considerados os dividendos). Finalizamos na outra bem célebre OPA do BCP sobre o BPI, iniciada com 5,7 Euros por ação e depois subida a oferta para 7 Euros – prémio de 23% face aos múltiplos do mercado.
Alguém encontra nestas OPA’s este tipo de prémio ora oferecido pela Benfica SGPS (repito: acima de 80%!) verdadeiramente exorbitante? Qual a explicação para o valor oferecido pela SGPS? Que diz o Conselho Fiscal da Benfica SGPS sobre o valor oferecido, sabendo que na Administração da própria SGPS se encontra um dos beneficiários ou seja Luís Filipe Vieira (LFV) que assim garante cerca de 3,7 milhões Euros quando deixar os Órgãos Sociais, sem ficar sujeito às volatilidades do mercado?
Este tipo de operações não deveria ser mais escrutinada sobre objetivos e razoabilidade de preço oferecido? Sabemos que um acionista que controla 12,7% da SAD, José António Santos, irá, de acordo com o “Eco”, receber um jackpot de mais de 11 milhões de Euros, dado alegadamente ter investido cerca de 3 milhões de Euros em 2017 e agora ir receber 14,6 milhões de Euros. Normal? De certeza que não. Outros claramente beneficiados, dadas as percentagens detidas serem significativas, são José Guilherme (com 3,73%), Joaquim Oliveira (2,66%) e a Quinta dos Jugais (2%).
Já “off the record” lemos certas explicações, apresentadas na maioria pela comunicação social, outras pelos apaniguados da Direção de LFV. Segundo o CM, a OPA seria para evitar uma “oferta hostil” como se fosse possível ela existir com o Benfica a controlar cerca de 63,6% para além das percentagens que os seus Órgãos Sociais detêm. Como esta não colheu, posteriormente surge no Record outra explicação bem mais plausível, ou seja, facilitar a entrada de um novo investidor constituindo um lote que seja apetecível.
Dentro desta linha de defender a entrada de um potencial investidor que traga suporte financeiro a um “upgrade” qualitativo de uma equipa para a Europa quando se perspetiva uma mudança do modelo da Champions para 2024/25, surgiram uns quantos a argumentar adicionalmente que o valor do capital próprio da SAD até é superior atualmente aos 5 euros/ação (totalmente verdade!) e referindo que os acionistas investiram mais de 20 anos sem nunca terem dividendos pelo que se torna justa esta remuneração de capital. Argumentos interessantes mas que deveriam suscitar uma questão que não respondem nesses textos: porque razão o mercado subvaloriza as ações da Benfica SAD?
Adiante. Para já há grandes beneficiados: quem detém lotes significativos de ações. Depois, é tudo nebuloso sobre os propósitos adicionais, dada a falta de esclarecimentos públicos por parte da Administração da Benfica SGPS (temos de aguardar o prospeto!).
Dado que sempre ouvimos por parte de todos os Órgãos Sociais e em particular de LFV que o Benfica irá sempre deter a maioria de capital da SAD, apenas, para mim, subsiste uma dúvida, ou seja, saber se alguém, sobretudo um parceiro financeiro, está disposto a entrar com menos de 50,1% sem garantir que pode mandar? Para mim, esta situação só fará sentido se este potencial Grupo igualmente detiver uma influência significativa, comercial ou outra, no Benfica (Clube). Então, se assim for, tudo começa a fazer sentido!