Donald Trump anunciou esta segunda-feira que pretende reintroduzir tarifas sobre as importações de aço e de alumínio do Brasil e da Argentina. O chefe da Casa Branca acusou os dois países sul-americanos de manipulação cambial, prejudicando os produtores norte-americanos.
“O Brasil e a Argentina têm feito uma desvalorização maciça das suas moedas”, escreveu Trump no Twitter, acrescentando que o restabelecimento das tarifas terá “efeito imediato”.
No mesmo anúncio, Trump pediu à Reserva Federal para desvalorizar o dólar, para as empresas norte-americanas ganharem vantagem no mercado exportador. “Deve agir para que os países, que são muitos, não aproveitem o nosso dólar forte, desvalorizando as suas moedas. Isso torna muito difícil aos nossos produtores e agricultores exportarem os seus bens de forma justa”, defendeu.
O chefe da Casa Branca não revelou os pormenores que o levaram a tomar esta decisão. Porém, na semana passada, o valor do real desceu para níveis históricos face ao dólar – na última terça-feira, o dólar equivalia a 4,2592 reais.
Um dia antes, o ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, não mostrou qualquer preocupação em relação à taxa cambial vigente, dando a entender que até era vantajosa para o Brasil. “Não estou preocupado com o dólar alto”, assegurou. “Pelo contrário, acho que é absolutamente compreensível”.
Em reação ao anúncio de Trump, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, adiantou que iria falar com o seu ministro da Economia sobre o caso. “Vou falar com Guedes. Alumínio? Vou falar com o Paulo Guedes agora. Se for o caso, ligo para o Trump. Eu tenho um canal aberto com ele”, disse aos jornalistas no Palácio da Alvorada, em Brasília. O anúncio do Presidente dos EUA já está a afetar o preço das ações das empresas de aço brasileiras. É o caso da Gerdau, sediada em São Paulo, que caiu 1,5% na bolsa, poucas horas depois do anúncio do chefe da Casa Branca.
O peso argentino tem descido de valor de forma fulminante. No meio de uma grave crise financeira, a moeda da Argentina desvalorizou cerca de 60% face ao dólar só este ano – 30% desde que Alberto Fernández, de centro-esquerda, foi eleito Presidente do país. Depois do anúncio do chefe da Casa Branca, o Governo argentino anunciou que planeia entrar em negociações com o Departamento de Estado dos EUA sobre a reintrodução das tarifas.
A política protecionista reivindicada pela administração norte-americana prevê algumas exceções para os aliados. Quando foram reintroduzidas as tarifas sobre os metais, em 2018, Brasil e Argentina ficaram isentos de impostos, mas há outros países também com um enquadramento mais favorável no que toca a exportações para os EUA: Canadá, México, Austrália e Coreia do Sul.
Ao mesmo tempo, a guerra comercial entre a China e os EUA prejudicou as exportações de soja e outros produtos agrícolas norte-americanos. Tanto o Brasil como a Argentina substituíram os EUA como os maiores fornecedores de produtos agrícolas para a China.
Sem o dizer com todas as palavras, a nova presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, afirmou esta segunda-feira que os conflitos comerciais iniciados pelos EUA prejudicam a economia da zona euro. “O crescimento na zona euro permanece fraco”, alertou Lagarde. “Esta fraqueza deve-se a fatores globais”.