Fui ver os números, procurei na Pordata e concluí que a percentagem das despesas de saúde no PIB, durante os últimos cinco anos, se cifrou em 9 por cento (em média), sendo de 8,9 por cento em 2017.
Estão, portanto, quase ao nível de 2003.
Depois desse ano, subiram a uma média de 9,3 nos seis anos seguintes , atingindo 9,9 em 2009, e começaram a baixar para uma média de 9,6 nos quatro anos que lhes sucederam.
Li e reli, então, várias declarações de membros do Governo sobre o continuado desinvestimento na saúde.
Estou esclarecido.
Se dúvidas houvesse, aliás, outro número disponível indica ter diminuído significativamente a participação pública na despesa geral.
Temos, pois, um problema e não adianta inventar fantasmas.
Há mais profissionais de saúde? Há, mas o número de horas de trabalho diminuiu.
Há mais Unidades de Saúde Familiar? Há, mas não se antevê quando atingirá o Governo o seu próprio e anunciado objectivo de conseguir que todos os utentes tenham médico de família atribuído.
E tudo se complica quando cuidados hospitalares públicos entram em crise, quer em urgências, quer em recebimento de doentes nas especialidades, ou quando o povo espera e desespera por consultas e meios auxiliares de diagnóstico.
Não vale a pena falar na ADSE que se transformou no tabú do Governo.
Menos inscritos, menos utilidades, significam mais sobrecarga. Menos comparticipação pública significa, apenas, o mesmo.
Claro que os seguros de saúde são o recurso alternativo, mas normalmente em idades mais saudáveis e em titulares de rendimentos suficientes.
Sobram os outros todos, designadamente os idosos que, para desgraça do SNS, lá vão na totalidade cair.
Não será de estranhar o geral sentimento de insatisfação e de preocupação.
As pessoas sentem-se crescentemente desprotegidas.
Não vale a pena tapar o Sol com a peneira.
São muito interessantes as discussões e os jogos de culpabilização. Não levam a nada.
Aliás, a actual líder parlamentar do PS não conseguiu esconder a incomodidade em recente entrevista. Quatro anos depois seria ofensivo fingir não saber…
A ministra é pródiga em desculpas.Tenta ser, também, imaginativa.
A ideia que a vinculação exclusiva dos médicos é a panaceia universal não vende.
Hoje, os profissionais de saúde não se limitam a ser disputados dentro do país por instituições privadas e públicas. O mundo está aberto. As oportunidades multiplicam-se noutros países. Conseguem melhores condições de trabalho e melhor remuneração.
Nem Cuba, que é Cuba, segura os seus profissionais públicos.
Apela ao cimento ideológico do SNS. Não chega.
Encostada à parede, resta-lhe a saída de acentuar a ausência de meios.
Significa isto instalar uma querela destrutiva dentro do Governo. A Saúde quer o financiamento que precisa, as Finanças recusam.
A Saúde é a esquerda utópica, as Finanças são a austeridade.
Uma guerra surda.
Uns pró, outros contra.
No peito do ministro das Finanças alinham-se as medalhas do equilíbrio orçamental, do crescimento dos impostos, da redução da despesa pública. Sai ferido, porém.
Com um braço engessado, a saúde convalesce.
O Presidente ajuda.