Depois de um NataL em família e festas celebradas com tradição, o Ano Novo aproxima-se a passos de gigante. Há quem faça reflexões sobre o passado; eu sempre preferi falar do futuro.
António Costa veio dar as Boas Festas numa Unidade de Saúde Familiar – e, com esta presença, pretendeu reforçar a sua ideia de dar prioridade à Saúde, em concreto, ao SNS.
Seja então assim. Acreditemos que tudo a partir daqui vai ser diferente, com as contratações prometidas, com os reforços de verbas a despender parcialmente nos pagamentos a fornecedores. Mas se isso é possível, por que não se fez há mais tempo? Ou será que o problema se radica em preconceitos ideológicos, como o de proibir as PPPs – que objetivamente poupam dinheiro ao Estado, como reconheceu o Tribunal de Contas, além de terem melhor gestão (Hospital de Vila Franca de Xira)? Por que não desenvolver mais PPPs, por muito que o Bloco e PCP se oponham?
Os transportes são outro drama para quem precisa deles todos os dias para ir trabalhar.
Sendo a maioria dos transportes nos grandes centros urbanos de capitais públicos, é óbvio que as maiores reclamações terão sempre de provir destas empresas.
Todas as equipas de gestão se queixam de falta de recursos financeiros, apertados pela asfixia do Ministério das Finanças.
Mas se assim é, novamente faria sentido acabar com o preconceito de esquerda da inevitabilidade da gestão pública. Abram-se as portas aos privados, que poderão trazer o capital financeiro tão essencial à modernização e melhoria dos transportes públicos, com forte aposta na regulação (AMT) como garante dos objetivos governamentais de bem servir a população.
Mas o ano 2020 não poderia começar sem uns fait divers.
Pelo ministro do Ambiente, Matos Fernandes, em vésperas de Natal e à laia de Boas Festas, ficámos a saber que a malta ali das aldeias ribeirinhas do concelho de Montemor-o-Velho vai ter rapidamente de mudar de lugar.
Se calhar até tem razão, qual elefante em loja de porcelana, como sucedeu no tema do diesel. Mas dito assim é muita falta de jeito – e Costa deve ter ficado sobressaltado. Muito mais fácil que proteger populações que construíram legalmente as suas casas – por exemplo, reforçando os diques em época de secas prolongadas – é sugerir que se mudem aldeias inteiras para zonas mais seguras. Este ministro ainda consegue surpreender tudo e todos.
Entretanto, Centeno também já ousou pedir a cadeira-mor do Banco de Portugal, antes que alguém se lembre de lá colocar um ‘amigo’. Ufano do seu Orçamento 2020 de ‘base zero’, em coerência com o seu lugar de presidente do Eurogrupo, o ministro das Finanças reivindica o record dos menores défices da nossa democracia, como se isso fosse algo que justificasse o lugar ora cobiçado.
Mas Costa, que não chegou à sonhada maioria absoluta – quiçá pelos apertos que Centeno deu nas Finanças –, será que o vai recompensar em 2020? Para já, na hierarquia do Governo deu primazia a outros, demonstrando preferência por um Ministério muito mais político que técnico. Se dúvidas houvesse, a pública divergência com o presidente do Eurogrupo (Centeno) coloca também em risco a cadeira sonhada no Banco de Portugal. Os timings é que serão um problema para Costa, dada a Presidência da UE em 2021.
Enquanto isto, na oposição, Rio enfrenta Montenegro e Pinto Luz já a 11 de janeiro. Depois de ter passado as eleições nacionais com uma votação que, estou convencido, nenhum dos seus opositores teria conseguido alcançar, volta a ser acossado por dentro. Pior que ter de combater os restantes partidos políticos é ter de combater opositores internos.
Seria normal dar tempo a Rio, chegado há dois anos a líder do PSD. Seria normal unir esforços para combater a esquerda unida na ‘geringonça’ (I e II, dado o Bloco e o PCP não terem alternativa senão apoiar Costa). Mas preferem esfacelar o que demorou tanto tempo a construir, mesmo com duas novidades desde as eleições: o enfraquecimento do CDS e a subida da IL e do Chega. Esta realidade, que a desunião interna parece não vislumbrar, pode dar muitos votos sobretudo à IL, bem unida em torno de Cotrim de Figueiredo.
Finalmente, 2020 é ano de eleições no Benfica. Com um reinado de cerca de 17 anos, Vieira deu muito ao Benfica, devolveu-lhe credibilidade, construiu o Seixal e o Museu. Beneficiando, e muito, do enfraquecimento notório dos seus oponentes internos (Sporting e Porto), recuperou sem grandes dificuldades – e até notória perda de qualidade futebolística – a hegemonia desportiva.
Mas, simultaneamente, viu o seu nome publicamente envolvido em processos jurídicos estranhos (bem como a SAD), estabeleceu negócios de milhões com um novo parceiro estratégico, outrora baluarte do seu principal rival desportivo, e agora lançou uma OPA interna com o argumento de ser o único caminho para dotar o Clube/SAD de ‘músculo’ financeiro para patamares europeus. No entanto, na minha opinião, os principais objetivos serão outros – ou seja, de, com um investidor estrangeiro ‘amigo’, dominar o Clube/SAD.
Estas eleições serão um claro teste aos sócios: sancionar uma estratégia irreversível de cedência de poder a um investidor (‘amigo’ ou não) ou afirmar perante alternativas que apareçam que o Clube continuará sempre do povo benfiquista.