Uma criança de 12 anos morreu no passado dia 22 de dezembro depois de ter ido duas vezes à urgência da Clínica CUF Almada, onde as queixas terão sido desvalorizadas pela médica que viu a menina na segunda ocasião, horas antes de esta entrar em paragem cardíaca já no Hospital Garcia de Orta. O caso foi tornado público nas redes sociais pela mãe da criança, em forma de apelo, considerando inadmissível não terem sido feitas análises e exames na CUF quando a filha recebeu uma pulseira laranja, de doente muito urgente. Ao invés, foi lhe dito que a menina estaria a tentar chamar a atenção.
A mãe relata que depois de uma primeira ida à CUF no dia 18 de dezembro, em que a criança foi medicada pela sua pediatra para um problema muscular, regressaram no sábado, dia 21. «A Leonor entrou cheia de dores, com pulseira laranja (a 2.ª mais grave). Fomos atendidas por uma pediatra que nem a camisola a mandou tirar», escreve. «Mandou aplicar-lhe por via intravenosa, a medicação que ela tinha estado a tomar em casa. A Leonor adormeceu quando estava a receber o tratamento (estava exausta), mas quando acordou começou novamente a gritar com dores», continua a mãe, descrevendo que a criança foi advertida por um enfermeiro de que não podia gritar, pois havia outros doentes, e que a médica lhe disse que a filha não podia estar com tantas dores perante a medicação tomada. «Suspeitava que a situação fosse uma chamada de atenção (…) Mandou-me marcar uma consulta com um pedopsiquiatra porque ela estava na adolescência».
Em casa, o agravar da situação levou a que chamassem o INEM, tendo sido então transportada para o Garcia de Orta em hipotermia e taquicardia. «Fizeram-lhe análises ao sangue, TAC ao tórax, raio-x, tudo o que na CUF não fizeram. O sangue estava normal, não tinha pneumonia, mas a TAC ao tórax acusava o músculo cheio de sangue. Os médicos iam fazer-lhe uma TAC ao cérebro quando a minha menina entrou em paragem cardíaca. A primeira vez conseguiram reanimá-la, na segunda o coraçãozinho dela não resistiu», escreve a mãe, considerando que a equipa no Garcia de Orta foi incansável e deixando o apelo a amigos para não pensarem que os hospitais privados são melhores do que os públicos e nunca desvalorizem as queixas dos filhos. «Ainda não sei do que a minha filha faleceu e até pode ser algum problema que ainda não tivesse sido diagnosticado e a CUF até tem excelentes profissionais, mas é inadmissível a minha filha ter entrado com uma pulseira laranja nas urgências, e não lhe terem feito análises, uma TAC, um raio-x, o que fosse, e ainda me dizerem que era tudo psicológico».
Questionada pelo SOL, a CUF manifestou profundo pesar e total solidariedade para com a família, informando que foi aberto um inquérito interno: «Nesta fase e, por forma a concluir o inquérito entretanto iniciado, foi ainda decidido não incluir, temporariamente, a médica em questão na escala de serviços clínicos da Clínica CUF Almada, salvaguardando a competência e a experiência de mais de 27 anos que lhe é reconhecida».
Também o Ministério da Saúde lamentou a morte da criança. «Apesar da equipa de profissionais do HGO ter feito todos os esforços para reverter a situação de grande gravidade, não foi possível evitar este desfecho que lamentamos profundamente. Foi solicitada autópsia médico-legal ao Ministério Público, para esclarecimento da causa de morte, conforme determinação legal e normas do HGO».