Uma investigação ao fenómeno da violência contra profissionais de saúde, publicada na última edição da revista Acta Médica Portuguesa, revela que apenas uma minoria das vítimas notifica os incidentes. O trabalho, realizado num hospital público de Lisboa entre abril e maio de 2018, revelou que apenas cinco dos 21 participantes, vítimas de episódios de agressão, notificaram os casos. Todos eles aconteceram num contexto de violência verbal.
Segundo o levantamento feito, as principais ações levadas a cabo pelas vítimas foram: em 14 dos casos, uma advertência ao agressor seguida de um pedido para que parasse; e nos restantes sete as vítimas chamaram a polícia. De registar ainda que, segundo a investigação, nenhuma das agressões esteve na base de qualquer pedido de baixa ou de interrupção de trabalho.
Consequências
A maioria das vítimas, mais de 76%, diz ter sentido na pele algumas consequências, como memórias, pensamentos negativos que as perturbavam e que aconteciam com alguma periodicidade. Além disso, algumas relataram que evitavam expor a situação, mantendo-se despertas e receosas de que algo idêntico pudesse repetir-se, havendo também relatos de insónias, perda de apetite e falta de vontade de ir trabalhar.
O estudo destaca que 15 das 21 vítimas assumiram ter passado a estar num estado de hipervigilância.
Já no que toca aos que presenciaram as agressões, o estudo da Acta Médica Portuguesa revela que dois terços (12 em 18 testemunhas) acreditam que os incidentes mudaram a maneira como a vítima passou a lidar com as suas funções, incluindo “satisfação no trabalho e intenção de sair”.
E também notaram “sentimentos de medo, insegurança, tristeza, desmotivação, exaustão, stresse e falta de reconhecimento”, diz o documento.
Em conclusão, os investigadores explicam que a violência no trabalho “afeta significativamente os trabalhadores na saúde e bem-estar”.
E adiantam ainda que é preciso criar familiaridade com com processos internos de notificação, sendo necessário para isso definir estratégias. O estudo aponta mesmo que deve ser estudada a criação de “programas específicos para facilitar as notificações”.