Pedro Fonseca e um apelo a Fernando Medina

Todos já fomos jovens, já frequentámos a vida noturna em bares, discotecas e pubs ao ar livre, já tivemos os nossos excessos. Mas isto foi longe demais. O que se passa no Campo Grande ultrapassou todos os limites

«A prudência é uma solteirona rica que a incapacidade corteja».

W. Blake

 

A morte de Pedro Fonseca no Campo Grande deve servir para as autoridades públicas (Governo, Câmara de Lisboa e freguesia respetiva) colocarem as mãos na consciência e tomarem decisões capazes de mudar radicalmente o que já há algum tempo acontece naquela zona da cidade. 

E deve servir também para muitos de nós, enquanto pais, abrirmos os olhos para o que se passa naquela zona, não só à noite mas também de dia. 

Autoridades públicas, pais e famílias são os grandes responsáveis por assassinatos como aquele e por crimes de vários tipos que ali acontecem. Há demasiado tempo que se impunha fazer alguma coisa para acabar com aquilo de vez. 

O cenário ali montado – e permitido por inércia de muitos de nós – há muito que vaticinava uma tragédia. Assaltos, overdoses, bebedeiras com comas hospitalares, tudo vinha ali a acontecer devido ao consumo de álcool e de outras substâncias por parte de jovens completamente à solta e à mercê de vendedores de bebidas alcoólicas e de drogas que, de forma despudorada, usam a juventude para ganhar dinheiro de forma fácil. 

Sou testemunha do que infelizmente por ali se passa. Várias vezes por lá passei recentemente e constatei como um território nobre da cidade se transformou, à frente de todos nós, num local de culto do alcoolismo, da devassa, tipo vomitómetro a céu aberto.

É urgente parar com o que ali se passa, sob pena de casos graves virem a repetir-se. Não é a PSP e outras forças de autoridade que têm de resolver o problema – mas sim os órgãos que tutelam o licenciamento para abertura e funcionamento de estabelecimentos de venda de bebidas alcoólicas e afins, que tutelam a segurança e a ordem pública de espaços ao ar livre.

A PSP e outras força de segurança têm feito o que deve ser feito. Não podem é deslocar em permanência um contingente capaz de controlar a multidão que ali se instala.

As famílias, nós, enquanto pais, temos de ser fortes e firmes, proibindo os nossos filhos de para lá irem, a pretexto de ser o local da moda ou onde estão os amigos.

Sejamos claros: não é normal vender-se e consumir-se álcool em barda como ali acontece. De dia e de noite. E ainda por cima num território da cidade onde, paredes meias, foram instaladas infraestruturas públicas para uso de famílias, desportistas, cidadãos em geral. É uma contradição a coexistência, sem qualquer muro físico a separá-las, de uma zona de deboche e alcoolismo e outra destinada à prática de desporto e de tempos livres, promovendo hábitos de vida saudáveis…

Infelizmente, não é só no Campo Grande que isto acontece. Observa-se também, por exemplo, na zona do Arco do Cego – onde se instalam jovens e menores de copo na mão, alguns no chão, outros vomitando, no meio de todo o tipo de lixo.

Todos já fomos jovens, já frequentámos a vida noturna em bares, discotecas e pubs ao ar livre, já tivemos os nossos excessos. Mas isto foi longe demais. O que se passa no Campo Grande ultrapassou todos os limites. A cidade de Lisboa tem de acabar com isto. Uma cidade que não cuida da sua juventude não terá o futuro que deseja.

Lisboa merece melhor.

Tenhamos esperança que o presidente da Câmara da capital, cidadão, pai, pessoa moderada e responsável, consiga acabar com aquilo a bem da saúde e segurança públicas. Que não lhe ‘doam as mãos’. Se o fizer, terá o apoio da esmagadora maioria dos cidadãos e eleitores de Lisboa. Daí este apelo: acabe com aquilo com urgência!

Para terminar, é justo um elogio às autoridades de investigação criminal, PJ e afins, pela forma rápida e com resultados positivos como trataram o crime que vitimou Pedro Fonseca.

 

olharaocentro@sol.pt