Na sua moção, defende que o CDS deve ‘romper’ com aquilo que foi nos últimos 25 anos. O que mais o desagradou neste período?
Nos últimos anos, o CDS tornou-se um partido que aposta numa retórica inconsequente. Passou a encarar a política como um mero exercício de conquista e manutenção de poder, em detrimento do combate pelas ideias partilhadas pelo seu eleitorado. Por vezes, surpreende até o eleitorado, pelas decisões políticas que toma. Temos de escolher claramente se queremos mais do mesmo, a continuidade ou optar pelo futuro, por um caminho de esperança. Esse caminho faz-se com novos protagonistas e com uma nova forma de afirmar o CDS. Os candidatos da situação já não têm margem de progressão, até podem ter 100% no congresso, mas os portugueses não lhes darão nem mais um voto.
O CDS tem sido tímido a afirmar a sua posição em relação a questões fraturantes como a adoção de crianças por homossexuais? Como psicólogo, qual a sua opinião sobre este assunto?
Claramente que sim. Não são questões fraturantes, são questões essenciais. São temas que resultam de um modelo de sociedade que se propõe e que defendemos. Todos sabemos, o instituto da adoção defende e os estudos revelam que o melhor para uma criança é um pai e uma mãe. Portanto, sou contra outras soluções e enquanto existirem mais casais, homem e mulher, a querer adotar do que crianças disponíveis, não faz sentido discriminar positivamente dois homens ou duas mulheres para terem uma criança adotada. O superior interesse da criança deve prevalecer sobre os interesses dos adultos.
Defende também a restrição das situações de divórcio unilateral. Acha que o eleitorado do CDS continua a rever-se em ideias mais conservadoras?
Isto nada tem de conservador nem especificamente de eleitorado CDS, isto tem a ver com todos os portugueses. Esta proposta não se aplica ao divórcio por mútuo consentimento mas sim ao unilateral. Até porque é mais fácil fazer cessar o contrato de casamento do que o contrato de trabalho ou de arrendamento. No fundo, garantir a estabilidade e a tutela da confiança num projeto de vida a dois. Em síntese, visa reforçar o papel da família e defender a parte mais vulnerável num divórcio, protegendo e salvaguardando os seus interesses. Não é uma medida para impedir os divórcios. Quanto ao eleitorado, acha que, nos 51% de eleitores que não votam, não existem conservadores e eleitores que votarão CDS se este se tornar previsível, seguro e confiável? Claro que sim!
Não é o único a pedir a revogação da lei do aborto – Filipe Lobo d’Ávila também pede a reversão gradual. Existem mais pontos de contacto entre a sua candidatura e as de outros candidatos?
O aborto tem de ser combatido com a oferta de reais e efetivas alternativas para a mulher não abortar e defender as vidas em causa. Apostar na informação e na responsabilização. Depois, o Estado deve dar condições de saúde, higiene, monetárias e de acolhimento a todas as mulheres, para não precisem de recorrer ao aborto. As pessoas agrupam-se, de forma saudável, em partidos, por sentirem que convergem aí outras que partilham das suas ideias. É natural que haja pontos de contacto entre as várias candidaturas.
Não teme que a existência de cinco candidaturas venha fragmentar mais o partido?
Não se trata de fragmentação. Trata-se de vitalidade e de garantia que o CDS dispõe de sangue novo com vontade para o conduzir a um futuro digno. A existência de cinco candidatos tem permitido uma reflexão profunda de candidatos, militantes e simpatizantes. E é bom ver a existência de pontos de comum acordo, como no caso da defesa da vida. É o garante que haverá escrutínio sobre este tema, independentemente de quem ganhe.
Como deve ser o futuro do CDS? Faz sentido fomentar acordos à direita?
É importante assumir as bandeiras certas, reunir o apoio dos portugueses e criar condições para sermos a grande casa da direita em Portugal. Não podemos ser um projeto credível de poder, sem antes sermos um projeto credível de defesa de ideias, causas, valores e princípios. É preciso afirmar um CDS de direita, sem complexos, afirmativo e convicto.
E com o Chega? Não teme que o partido de André Ventura ‘roube’ mais eleitorado ao CDS?
Sempre fui a favor da competitividade. A afirmação de projetos e partidos à direita só a robustece, não a diminui. Quanto mais se pensar e falar à direita, melhor. Prefiro entender-me com o Chega do que com o Bloco de Esquerda. Se o CDS escolher mais do mesmo deixará o campo livre para a progressão de outros.
O que é preciso para o partido voltar a ser a terceira força política em Portugal?
Quero que o CDS seja a primeira força política. É preciso que os congressistas entendam que é preciso mudar. A estratégia de Cristas e da atual direção de descafeinar o partido para tentar agradar a todos falhou. Os problemas que o país enfrenta exigem um CDS forte. É preciso vitaminar o CDS, cafeiná-lo de novo, para que tenha a energia necessária, assente em ideias e num discurso claro, para os portugueses nos apoiarem. Estou seguro de que 10 ou 12% dos 51% de abstencionistas, votarão em nós, o que fará do CDS, de novo, um grande partido.