Sem dúvida que os cães podem ser os melhores amigos das crianças. Sobretudo quando têm uma personalidade adequada e a criança já está habitada ao animal e a relacionar-se com ele. Mais do que melhor amigo, há cães que desempenham até um papel fundamental no desenvolvimento emocional de certas crianças e as ajudam a ultrapassar várias dificuldades, havendo inclusivamente terapias feitas com o apoio destes animais que dão resultados indiscutíveis.
Mas todo este cenário salutar muda quando se trata de cães que surgem do nada em jardins, na rua, na praia ou em parques infantis a meterem-se com as crianças. Quando os meus filhos eram mais pequenos frequentávamos bastante um jardim onde eles gostavam muito de brincar. Apesar das várias tabuletas a proibir a entrada de cães, começou a haver muitos donos que os soltavam por ali. Além da relva ficar toda suja, o que começou a impossibilitar-nos de a pisar descontraidamente, os cães entusiasmados a brincar atiravam-se frequentemente para cima deles, magoando-os com as patas e deitando-os ao chão. Já para não falar que não os deixavam brincar em paz: não conseguiam jogar à bola sem os cães os perseguirem, e se a apanhassem abocanhavam-na até a destruir. A reação dos donos era sempre a mesma: ‘Ele não faz mal!’.
Eu sei que só querem brincar, que – à partida – não são maus, calculo que não vão morder, mas isso não quer dizer que não lhes faça mal. Assusta-os, arranha-os, importuna-os e até os pode magoar. Isso também é fazer mal… Estamos a falar de crianças muito pequenas, que se desequilibram com facilidade, andam com pouca firmeza e no meu caso um deles ainda gatinhava. Dois dos meus filhos – na altura eram três – adoravam cães, mas passaram a ter pavor. Sempre que viam um cão fugiam dele ou escondiam-se e o cão instintivamente corria para eles, o que gerava sempre um momento de tensão.
Quero deixar claro que gosto muito de cães. Inclusivamente tive um cão durante 16 longos anos, com quem tinha uma relação muito especial. E se fosse possível neste momento teria um que acompanhasse o crescimento dos meus filhos. Não é isso que está em causa. Mas tal como imagino que algumas pessoas não gostariam de ter crianças a perseguir o seu cão, a puxar-lhe as orelhas ou a cauda a brincar, alguns pais também não fazem questão que cães alheios importunem os seus filhos.
Isto sem falar de casos mais graves de cães que atacam crianças.
Tanto as crianças como os cães são imprevisíveis, o que pode gerar as mais inesperadas reações de qualquer um dos lados. As relações entre ambos são felizes e saudáveis quando controladas, mas nunca devemos descurar ou confiar totalmente. Tal como acontece com as pessoas, convém haver cautela com um cão desconhecido. Para todos andarmos à vontade – cães, crianças e adultos – cada um deve passear no seu espaço – e há cada vez mais destinados a cães – para que não haja surpresas, nem momentos menos agradáveis.
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