Não é o muro de 725 quilómetros que o Presidente Donald Trump quer construir nos Estados Unidos até ao final do ano, mas pode ser mais criativo. O Governo grego anunciou ontem que vai construir uma barreira flutuante à volta da ilha de Lesbos para deter milhares de migrantes que tentam escapar da violência nos seus países de chegarem às suas portas.
Um anúncio que foi recebido com alarme pela Amnistia Internacional, pois poderá dificultar o trabalho dos socorristas que prestam assistência aos migrantes que tentam fazer a perigosa travessia para a ilha de Lesbos, segundo a organização de direitos humanos.
A barreira, que terá a forma de rede, ficará 50 cm acima da superfície da água. Terá também luzes intermitentes para torná-la visível durante a noite, segundo o documento que lança o concurso público que convida empreiteiros privados a realizarem uma oferta para ganhar o contrato, citado pelo Independent. Por sua vez, o Ministério da Defesa grego estima que o “muro marítimo” custará 500 mil euros, contando com quatro anos de manutenção.
O Governo descreve que o “sistema de barreira flutuante” precisa de ser construído “com especificações não militares” e “recursos específicos” para o cumprimento da missão das agências marítimas, na “administração da crise de refugiados”, cita o jornal britânico.
O Governo do partido de centro-direita, Nova Democracia, foi eleito no ano passado prometendo uma postura mais agressiva para com migrantes não documentados.
Dado ao recente aumento do fluxo migratório vindo da Turquia (de quase 60 mil no ano passado), a maioria do Afeganistão e da Síria, o Executivo da Nova Democracia quer erigir a barreira nos próximos três meses.
O plano é também uma resposta à crescente sobrelotação dos campos de refugiados na Grécia. O campo de Moria, em Lesbos, por exemplo, alberga neste momento mais de 19 mil refugiados quando tem apenas uma capacidade para duas mil pessoas..
“Em Evros , as barreiras naturais tiveram relativamente [bons] resultados na contenção dos fluxos”, alegou à Skai Radio o ministro da Defesa Grego, Nikos Panagiotopoulos, citado pelo Guardian. Segundo o diário britânico, o ministro referia-se à cerca de arame farpado que a Grécia construiu no nordeste do país em 2012, perto da fronteira com a Turquia.
A Amnistia Internacional levantou ainda dúvidas sobre a vontade do Governo em lidar “com aqueles que desesperadamente procuram a segurança”, pedindo ao Executivo as necessárias “salvaguardas que esse sistema não custe outras dúvidas”.
O Governo grego tem estado sobre vigilância das organizações humanitárias. No dia 23 de janeiro, os Médicos Sem Fronteiras acusaram o Governo de estar “deliberadamente a privar pelo menos 140 crianças refugiadas gravemente doentes de receber o tratamento médico adequado no campo de Moria
Quando o Executivo de Kyriakos Mitsotakis, em julho de 2019, revogou o acesso ao sistema público de saúde para requerentes de asilo e pessoas não-documentadas chegadas à Grécia, terá deixado 55 mil pessoas sem cuidados médicos, estimam os MSF.