Azeredo Lopes, ex-ministro da Defesa, foi esta segunda-feira interrogado pelo juiz Carlos Alexandre a propósito da fase de instrução do processo do assalto a Tancos. No tribunal de Monsanto, Azeredo Lopes voltou a negar ter recebido qualquer documento relativo ao roubo das armas e assumiu que teve conhecimento da encenação montada pela Polícia Judiciária Militar para recuperar o material militar roubado, depois de as armas terem aparecido.
O antigo ministro responsável pela pasta da Defesa foi um dos arguidos que pediu a abertura de instrução e, segundo o juiz Carlos Alexandre, o depoimento de Azeredo Lopes viria “desempatar” as duas versões já dadas pelo coronel Luís Vieira, ex-diretor da Polícia Judiciária Militar, e pelo general Martins Pereira, chefe de gabinete de Azeredo Lopes.
No entanto, durante a manhã, Azeredo Lopes apresentou uma terceira versão dos factos: o ex-ministro disse ter recebido um documento via WhatsApp, mas que esse mesmo documento não continha qualquer informação sobre o caso de Tancos. Esta versão levou o juiz Carlos Alexandre a mostrar a sua perplexidade perante uma nova história sobre o memorando que falava sobre o plano de encenação para encontrar as armas.
Já durante a tarde, Azeredo Lopes terá assumido que, apesar de não ter recebido qualquer documento, soube da encenação através de uma chamada no dia 20 de outubro – depois de as armas terem sido recuperadas. Nessa chamada, o chefe de gabinete terá falado sobre a recuperação das armas e de uma chamada encenada que denunciava que as armas estavam na Chamusca. Azeredo Lopes foi mais longe nas explicações e terá referido perante o juiz Carlos Alexandre que não denunciou a situação, porque não era sua obrigação.
À saída do tribunal, ao final da tarde, o antigo ministro da Defesa não revelou qualquer informação sobre o que disse perante o juiz. “Não estou confiante, nem deixo de estar confiante, não vou estar a expressar estados de espírito”, disse Azeredo Lopes. Germano Marques da Silva, advogado do ex-ministro, disse aos jornalistas que o seu cliente “depois do encontro das armas, teve informações do chefe de gabinete”, acrescentando que “todas as perguntas não ficaram sem resposta”.
O ex-ministro da Defesa é acusado pelo Ministério Público de denegação de justiça, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder e prevaricação. Segundo o Ministério Público, Azeredo Lopes sabia da operação montada pela Polícia Judiciária Militar para encontrar as armas antes da Polícia Judiciária.
Azeredo ponderou chamar Marcelo Rebelo de Sousa
Antes de entrar no tribunal, Germano Marques da Silva, advogado de Azeredo Lopes, admitiu que foi ponderada a hipótese de chamar o Presidente da República para depor como testemunha. “Só não o fiz por ser uma alta figura de Estado com direito a imunidade e com possibilidade de não responder”, justificou a defesa do ex-ministro da Defesa.
Marcelo Rebelo de Sousa acabou por não ser arrolado como testemunha, mas o mesmo não aconteceu com o primeiro-ministro António Costa, a quem foi enviado um questionário com cem questões.
E a decisão de chamar António Costa, referiu Germano Marques da Silva, surgiu “porque houve notícias na comunicação social a dizer que o Ministério Público queria chamar o primeiro-ministro e foi impedido de o fazer”. “Sobre factos não falo mas posso dizer que chamei o primeiro-ministro para que não houvesse dúvida que ele pudesse responder”, acrescentou o advogado.