O empresário português que no último domingo foi encontrado morto em sua casa, na Parede, esteve envolvido em vários processos – foi inclusivamente arguido num dos maiores processos realizados em Portugal, por falsificação de álcool, corria o ano de 2006 – e as autoridades não descartam para já a hipótese de a morte se tratar de um ajuste de contas relacionado com algum desses casos.
O cadáver de Rodolfo Pereira, 66 anos, foi encontrado na casa de banho do rés-do-chão que alugou há cerca de um ano, tendo as autoridades descrito um cenário macabro: tinha um saco de plástico na cabeça, fita adesiva na boca e estava de mãos e pés atados. ÀPSP, a namorada da vítima contou que falou pela última vez com Rodolfo Pereira na quinta-feira, pelas 22h, e que ficou preocupada com o silêncio nos dias seguintes. No sábado de manhã, segundo contou, terá ido à porta de sua casa e ao café onde este costumava ir, tendo-lhe sido referido que Rodolfo estivera lá com três homens que falavam castelhano. Perante tais informações, afirma que ainda voltou ao prédio onde morava a vítima nessa noite, com dois amigos, tendo levantado a persiana e visto a luz da sala acesa.
Apesar de namorarem há já cerca de dez anos, o casal apenas estava junto ao fim de semana, contou às autoridades a mesma testemunha.
No último domingo, após ser chamada, a Polícia Judiciária esteve durante várias horas na habitação para recolher todos os indícios que possam levar ao autor do crime e a PSP solicitou desde os primeiros momentos as imagens de videovigilância do café onde a vítima terá estado com os outros três homens. O i sabe ainda que Rodolfo Pereira vivia há perto de um ano naquele apartamento, tendo algumas rendas em atraso.
O julgamento do álcool Em abril de 2006 teve início em Sintra um julgamento que fez correr muita tinta, relativo a um caso de falsificação de álcool e fuga ao fisco e no qual foram constituídos mais de 200 arguidos.
O caso era relativamente simples: o Ministério Público concluiu que entre 1999 e 2002, os arguidos – entre comerciantes, produtores de vinhos, gestores de empresas de transporte e adegas cooperativas – faziam parte de uma rede que importara álcool etílico de França sem liquidar os impostos devidos, prejudicando os cofres públicos em mais de 200 milhões de euros.
A acusação referia mesmo que os arguidos teriam montando “uma estrutura criminosa que, entre 1999 e 2002, ao abrigo do regime de circulação entre entrepostos fiscais da União Europeia, procedeu à importação de álcool etílico com omissão de manifestos fiscais e sem o pagamento dos impostos devidos”.
Mas mais: as autoridades acusaram ainda a maioria dos arguidos por homicídio, dado que exportaram para a Noruega álcool com metanol que se destinava ao consumo humano – morreram diversas pessoas naquele país devido à ingestão de bebidas.
O caso esteve mais de dois anos em julgamento, tendo terminado em setembro de 2008 – com a leitura do acórdão a demorar mais de dez horas e o coletivo a decidir que apenas um dos arguidos deveria ficar em prisão efetiva. Houve 60 condenações e 140 absolvições.
Também na Noruega, o empresário Erik Fallo foi preso e cumpriu oito anos de prisão por ter vendido no país as bebidas alcoólicas com metanol importadas de Portugal. O homem ainda chegou a vir a Portugal testemunhar em julgamento quando já estava preso no âmbito do processo norueguês, confirmando que o álcool era levado de Portugal para a Alemanha – com paragem em Espanha ou em França – e que daí era encaminhado para o seu país, onde era usado no fabrico de uísque.
Mas, afinal, onde entra Rodolfo Pereira neste filme? É que o empresário agora encontrado morto terá iniciado a importação de álcool de França para Portugal, algo que terá sido facilitado pelos conhecimentos que tinha no ramo vinícola.
Além disso, este não é o único caso em que Rodolfo Pereira terá estado envolvido. Segundo o CM, o empresário terá tido no seu passado ligações a burlas em Angola, situação que também estará a ser passada a pente fino pelos investigadores.
Apesar de o corpo encontrado este fim de semana apresentar sinais de grande violência, os vizinhos da vítima garantem que não ouviram barulhos estranhos nos últimos dias.