A Agência Espacial Europeia e a Nasa juntaram-se para uma missão histórica. As agências espaciais lançaram esta madrugada o satélite Solar Orbiter, cuja missão é obter pela primeira vez imagens do polo norte e polo sul do sol.
Segundo o The Guardian, esta missão pode apresentar resultados inesperados, uma vez que os cientistas acreditam que a estrela não é perfeitamente circular como aparenta. “Não há razões racionais para os pólos não serem diferentes. Preparem-se para surpresas”, afirmou o consultor sénior para a ciência e exploração da Agência Espacial Europeia, Mark McCaughrean.
A sonda chegará a uma distância de 42 milhões de quilómetros do Sol, o mais perto que algum objeto alguma vez esteve em relação a esta estrela. Em perspetiva, a Terra encontra-se a cerca de 150 milhões de quilómetros do Sol. O Solar Orbiter irá para lá da órbita de Mercúrio, o planeta mais perto do Sol, enfrentando condições extremas. Será bombardeado por partículas de vento solar, por forte radiação e terá que suportar temperaturas até 500 °C.
Assim que chegar às coordenadas definidas, algo que será possível através da boleia oferecida pela gravidade de Vénus e que está estimado acontecer pela primeira vez em fevereiro de 2021, a Solar Orbiter começará sua missão. Para além da fotografia inédita dos seus polos, também irá permitir examinar como o Sol forma e controla a heliosfera, região que se encontra sob a influência do vento solar e de seu campo magnético e que se estende para além de Plutão. Isto poderá ajudar a compreender como as erupções solares produzem as partículas energéticas que conduzem ao clima espacial extremo próximo da Terra.
Os resultados desta missão também serão importantes para os astronautas da NASA, uma vez que serão reveladas mais informações de como a agência especial pode proteger os seres humanos da radiação emanada pelo cosmos, que pode danificar o ADN e causar alterações genéticas. Além disso os cientistas também vão perceber melhor o nível de estragos que o clima espacial causa nos satélites e aparelhos eletrónicos no regresso ao planeta Terra.
O Solar Orbiter está equipado com seis telescópios, 10 instrumentos e 27 sensores que funcionarão em conjunto para juntar dados sobre o vento solar, o campo magnético e as partículas solares, além das alterações interplanetárias transitórias.
O satélite europeu teve contribuições de duas empresas portuguesas. A Critical Software que criou sistemas de software do satélite – como os sistemas central de comando e controlo, de deteção e recuperação de falhas e de gestão de comportamento térmico – e a Active Space Technologies, que fabricou componentes em titânio para o braço de suporte e orientação da antena de comunicação do satélite com a Terra e canais igualmente de titânio, para a passagem de luz, que atravessam o escudo térmico do aparelho. “Esses canais são conjuntos de estruturas tubulares de cerca de meio metro de titânio com uma alta precisão mecânica e ótica e uma tolerância muito elevada ao calor”, disse o responsável pelo desenvolvimento de negócio da Active Space Technologies, Ricardo Patrício, ao Público.
A última missão que viu um satélite sobrevoar os polos do Sol aconteceu em 1990, com a sonda Ulysses, da Nasa, que, apesar de ter registado as medidas do campo magnético do astro e do vento solar, no entanto não possuía câmara.