Um dia destes, enquanto esperava para comprar uma sanduíche, apreciava a inaptidão de dois adolescentes que estavam na fila à minha frente. O contraste entre a altura e a imaturidade eram gritantes. Altíssimos e desenvolvidos, dos seus 17 anos, colocavam questões que não diferiam muito das que faria uma criança de seis anos. Não percebiam nada de nada e do outro lado a senhora tratava-os como se fosse sua mãe. Ficaram ali bastante tempo até conseguirem resolver algo tão simples como a escolha de um menu. Podemos assistir facilmente a situações como esta em vários contextos.
Hoje os pais têm como objetivo principal na educação dos filhos a formação académica e intelectual. Logo na procura do jardim de infância a prioridade vai geralmente para o que vão aprender. Não só para que sejam bons, mas para que sejam os melhores, porque vivemos num mundo cada vez mais competitivo. Pelam-se por conteúdos programáticos e avaliações e tudo o resto é perda de tempo. Querem que os filhos aprendam línguas desde cedo, a ler, a escrever, a fazer contas e o que mais houver. Se pudessem entravam diretamente para a faculdade para não estarem ali a marcar passo.
Ao mesmo tempo, parecem ter alguma dificuldade em educá-los para que venham a ser adultos autónomos, responsáveis e independentes. É mantida uma relação de dependência como se fossem seres incapacitados. As tarefas que realizam e o grau de autonomia muitas vezes não acompanham o seu desenvolvimento. Os telemóveis são um prolongamento dos pais e tornam-nos presentes em todas as situações para lhe resolverem os problemas mais simples. Por outro lado, são os pais que preparam as mochilas, que as transportam, que preparam os sacos para as atividades físicas, que opinam sobre os amigos, que levam e trazem os filhos da escola quando estes já têm mais do que idade para irem sozinhos. Alguns até ficam a observá-los nos intervalos e acompanhá-los-iam à porta da sala se assim fosse permitido.
Há uma tendência por parte de muitos pais para protegerem excessivamente os seus filhos, não os deixando desenvolver naturalmente e privando-os de se tornarem adultos seguros e autónomos. E quem faz o contrário é visto com maus olhos, como irresponsável e inconsciente.
A desculpa é que vivemos num mundo cada vez mais perigoso. Mas se para o mundo competitivo lhes dão ferramentas para ficarem em primeiro, na preparação para o mundo dos perigos manietam-nos e deixam-nos vulneráveis e assustados, sem segurança e descontração para o enfrentarem.
Não temos de os atirar às feras em pequenos, nem de os sujeitar a situações que lhes tragam ansiedade ou pô-los a trabalhar como escravos em casa. Mas só vão beneficiar se os libertarmos para irem fazendo aquilo que é adequado à sua idade. É verdade que às vezes se correm riscos, como quando começam a andar sozinhos na rua. Mas provavelmente correrão ainda mais se só forem habituados a fazê-lo só quando os pais acharem que já têm idade para se defenderem sozinhos, ou seja… aos 30.
Mais do que desenvoltura intelectual, a independência, a autonomia e a responsabilidade são fatores que levam ao sucesso. Não só profissional, mas sobretudo pessoal, que é o mais importante. Ainda não há avaliação na maioria das escolas para isso, nem a entrada na faculdade contempla esse fator, porque se fosse tido em conta talvez lhe dessem o devido valor.