O Senado italiano autorizou esta quarta-feira a abertura de um processo criminal contra o líder de extrema-direita Matteo Salvini. O ex-ministro do Interior de Itália é acusado de sequestro por ter mantido ilegalmente mais de uma centena de requerentes de asilo num barco – o Gregoretti – na costa da Sicília, durante cerca de uma semana, não os deixando desembarcar. O caso ocorreu entre julho e agosto de 2019, altura em que Salvini exercia o cargo.
A maioria dos senadores votaram a favor do levantamento da imunidade que protegia o líder da Liga – o número exato de votos só será disponibilizado depois do fim desta edição. De acordo com a lei italiana, os ministros têm imunidade parlamentar em relação às ações que levaram a cabo durante o exercício do cargo. Contudo, uma comissão votou no mês passado para retirar esse direito a Salvini, deixando a palavra final à câmara alta italiana.
Depois de um debate quente, a decisão do Senado autoriza os procuradores sicilianos a apresentarem formalmente a acusação a Salvini e o início de um julgamento – não se sabe a data, mas a primeira audiência irá decorrer na Catânia. Os magistrados da Sicília acreditam que as ações de Salvini constituem um abuso de poder, equivalendo de facto a um sequestro e podendo enfrentar uma pena de prisão até 15 anos se for considerado culpado.
Num caso que pode manchar-lhe a carreira política ou mesmo significar o seu fim, o líder da extrema-direita não mostrou sinais de recuar, muito pelo contrário.“Quero ir a tribunal com a cabeça levantada. Defender as fronteiras era o meu dever. Estou orgulhoso do que fiz, pelos meus filhos e pelas crianças deste país. Vamos ter um juiz para decidir se sou um criminoso ou se estava apenas a fazer o meu trabalho”, disse o líder da extrema-direita esta quarta-feira no Senado.
Antes do voto, e pelo Twitter, Salvini defendeu-se ao dizer que tomou a decisão de reter os requerentes de asilo à deriva na costa siciliana, não lhes permitindo desembarcar, com outros membros do Governo, e parafraseou o poeta Ezra Pound, conhecido por ser simpatizante do fascismo.
"Fez-se ao Senado uma pergunta precisa. O ministro Salvini agiu no interesse nacional? Sim ou não? Para nós, [a resposta] é 'não'. Isto foi campanha eleitoral a usar 100 pessoas a bordo de um barco italiano", disse Anna Pascani, membro da Câmara de Deputados.
Quando tomou as rédeas do Ministério do Interior, em junho de 2018, uma das primeiras movimentações de Salvini foi declarar o encerramento dos portos italianos aos barcos de resgate a migrantes, ameaçando-os com multas pesadas. E os problemas de Salvini com a justiça são muitos, entre vários, é acusado de incitação ao ódio. Existem, pelo menos, três investigações contra Salvini por alegado rapto de requerentes de asilo, explica o Guardian.
Por exemplo, em 2019, o Senado não permitiu a abertura de um caso criminal contra Salvini por não ter permitido o desembarque do Ubaldo Diciotti – barco da guarda costeira italiana – com 133 migrantes a bordo. Mas aí tinha o apoio do então parceiro de Governo, o Movimento Cinco Estrelas.
E, com efeito, os problemas de Salvini não acabaram por aqui. No dia 27 de fevereiro, a câmara alta italiana volta a reunir-se para decidir se o líder da extrema-direita deve enfrentar julgamento por alegado rapto de 164 requerentes de asilo, que se encontravam a bordo do Open Arms – embarcação de uma organização não governamental catalã.