Bas Dost, ex-jogador do Sporting, foi ouvido ontem por videoconferência na 29.a sessão de julgamento do caso do ataque à academia de Alcochete, que ocorreu a 15 de maio de 2018, e relatou o terror que viveu no momento da invasão. Alegou estar no ginásio a fazer exercícios quando começou a ver “muita gente” no corredor, antes de ser agredido. “A minha primeira reação foi perguntar porque estavam ali e o que queriam. Depois comecei a ficar com medo e o homem que apareceu virou-se para mim e deu-me com um objeto na cabeça. Depois começou a dar-me pontapés. Fiquei no chão a levar pontapés de dois homens”, confessou Bas Dost.
O jogador declarou ainda que “tudo aconteceu muito rápido” e sublinhou que ainda tem a cicatriz dos ferimentos, tendo ficado “cinco segundos” inanimado no chão. “Deitou muito sangue. Estava com imenso medo”, explicou, dando também a entender que os dias seguintes foram “terríveis” e que até tinha medo de falar normalmente com as pessoas. “Mesmo passados alguns meses continuava com medo, tinha receio de falar, não queria andar sozinho nem no supermercado”, referiu o jogador, que teve segurança reforçada à porta de casa durante duas semanas. Além disso, alega ter sido acompanhado por um “terapeuta” em Lisboa, que lhe sugeriu sair do país. “Fui logo de férias, foi horrível, pois não sabia qual ia ser o meu futuro. A minha mulher estava grávida, queria ter o bebé em Lisboa, e decidi que ia para Áustria durante três semanas”, relatou Bas Dost, que acabou por viajar. “Estive lá acompanhado por outro terapeuta”, concluiu.
Além de Bas Dost, também o arguido Tiago Neves prestou ontem declarações e admitiu que só foi à Academia do Sporting para “assustar” os jogadores e alertá-los de que poderiam ter dado muito mais em campo. “Queria ir lá dar uma espécie de aperto, mas nunca foi minha intenção agredir, era mais para pedir justificações. A minha intenção nunca seria ir lá agredir os jogadores, era dizer-lhes que deviam ter ganhado”, sublinhou, apesar de ter acionado uma tocha no interior da academia.Tiago Neves, que se deslocou para Lisboa para se encontrar com a namorada, diz ainda nunca ter entrado no balneário da equipa e que apenas atirou uma tocha para uma zona “sem nada”. “Sei que não devia, acendi a tocha e projetei-a. Essa tocha foi-me passada por um dos elementos”.
O processo, recorde-se, está a ser julgado no tribunal de Monsanto e tem 44 arguidos acusados de vários crimes.