Há muito mais eutanásia escondida do que se imagina?

Pacheco Pereira falou de uma ‘realidade’ que valeu inquérito a Ana Rita Cavaco. Bastonário dos médicos reafirma que desconhece qualquer caso.  

Depois da polémica em 2016 por declarações da bastonária dos Enfermeiros, a existência de casos encapotados de eutanásia em Portugal tornou a vir a lume no programa Circulatura do Quadrado (TVI24). Ao falar sobre o tema, Pacheco Pereira criticou o que disse ser uma hipocrisia: «Qualquer pessoa que conheça a realidade dos hospitais e de doentes com médicos que são seus amigos sabe que há muito mais eutanásia escondida do que se imagina». 

Há quatro anos, as declarações de Ana Rita Cavaco que davam a entender que existiam casos motivaram uma tomada de posição da Ordem dos Médicos e um inquérito da IGAS, arquivado. Ao SOL, Cavaco declinou falar sobre o tema. Já o bastonário dos Médicos reafirma não ter conhecimento de qualquer caso. «Há um ano ouvi Pacheco Pereira falar de eutanásia e a relatar de um caso de distanásia», diz. «Distanásia há casos, os médicos prolongam a vida e fazem coisas que já não deviam fazer e temos tentado lutar contra isso. Eutanásia não conheço. Mais: tenho 58 anos e nunca nenhum doente me pediu para morrer».

Um médico ouvido pelo SOL admitiu que existirão casos que poderiam entrar naquela definição, mas não uma prática generalizada. O clínico dá o exemplo de situações em que são administrados derivados de opioides para controlo da dor, e em que existe um duplo efeito, com uma depressão respiratória, que pode antecipar a morte. Miguel Guimarães admite  que ao prescrever este tipo de medicação há um ponto limite que pode levar à morte do doente. «Sem intenção de matar, já terá acontecido. Mas um médico ou enfermeiro praticar eutanásia com aquilo que tem à sua disposição, não tenho conhecimento. Se isso acontecesse, teria de ser muito esporádico».

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