Orelhas de macaco e enormes lábios vermelhos: Eram estes os acessórios obrigatórios para as modelos num desfile da Semana da Moda de Nova Iorque e que a modelo Amy Lefévre, de 25 anos, se recusou a usar por considerar que tinham conotações racistas.
O caso ocorreu no dia 7 de fevereiro e teve destaque este sábado numa reportagem do New York Post. “Fiquei ali, quase desfeita, até chegar ao ponto de dizer à organização que me sentia incrivelmente incomodada em levar aqueles acessórios que claramente são racistas”, contou Amy, revelando que a resposta da organização a deixou ainda mais chocada. “Disseram-me que podia sentir-me desconfortável, mas só durante 45 segundos”, revelou.
“Fiquei a tremer. Não conseguia controlar as minhas emoções. Todo o meu corpo tremia. Nunca me tinha sentido assim em toda a minha vida. Os negros ainda lutam muito em 2020 e os promotores [do desfile] não vetaram e até branquearam o uso destes acessórios nos desfiles", acrescentou.
A modelo acabou por desfilar sem os acessórios, que fazem originalmente parte de um conjunto de brinquedos sexuais, e dos quais faziam também umas sobrancelhas gigantes.
O desfile, que decorreu no Piers 59 Studios, tinha o objetivo de mostrar o trabalho de um grupo de 10 estudantes do Fashion Institute of Technology (FIT) de Nova Iorque, que faz parte da Univerdade Estatal de Nova Iorque.
A diretora do FIT, Joyce F. Brown, decidiu sair em defesa dos alunos, alegando que em causa estava apenas uma perspetiva artística.
“Este programa protege a liberdade dos estudantes para encontrarem a sua própria linha e perspetiva como designers”, disse a responsável.
As peças de roupa, que tinham como complemento os acessórios em questão, foram desenhadas pelo finalista Junkai Huang. A organização explica em comunicado que o estudante, de origem chinesa, queria colocar a nu "as partes feias do corpo humano", no entanto o estilista não comentou a polémica.
Por outro lado, a perspetiva da controvérsia não é a mesma para todos os que fazem parte do instituto. Um aluno, que pediu o anonimato, releva que nos bastidores do desfile defendeu a modelo. "Já tínhamos alertado várias vezes o produtor do desfile. Dissemos 'ela não pode usar isso. Está errado'. Ele gritou comigo e disse que eu tinha de me afastar e estar calado", revelou, contando ainda que não foi o único aluno a contestar.
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