O historiador, escritor, comentador político e ensaísta Vasco Pulido Valente morreu ontem, aos 79 anos. A notícia foi avançada pelo Público, jornal que desde a primeira hora contou com ele como colunista.
Nascido a 21 de novembro de 1941, em Lisboa, Vasco Valente Correia Guedes era filho de Maria Helena Pulido Valente e Júlio Correia Guedes, dois conhecidos militantes comunistas, e era neto de Francisco Pulido Valente, médico e intelectual republicano que se opôs ao Estado Novo. Prestes a entrar na idade adulta, passa a assinar como Vasco Pulido Valente. Chegou a afirmar, já na velhice, que a mudança de nome se prendeu pela escolha de uma fonética mais agradável, como escreveu Henrique Raposo num ensaio publicado em fevereiro de 2018 na revista do Expresso. Segundo confidenciara um amigo de infância aos jornais, Vasco decidiu usar o apelido materno «porque era mais bem», mas o mesmo ensaio indica que o facto de querer ser conhecido indelevelmente pelo nome de um avô que se opunha a Salazar era apenas mais uma forma de mostrar qual era o quadrante ideológico em que se posicionava. Motivações aparte, foi pelas iniciais V.P.V. que passou a ser conhecido no meio académico e político.
Entrou em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, depois de ter estudado no Colégio Nuno Álvares, em Tomar (um colégio interno, para onde foi enviado por se dar muito mal com a mãe, contou na última entrevista que deu ao Público, em outubro de 2018) na St. Julian’s School, em Carcavelos, e nos liceus Luís de Camões e Pedro Nunes, em Lisboa. Durante a licenciatura, participou no início da década de sessenta nas lutas académicas contra o regime do Estado Novo e colaborou em diversos jornais e revistas. Aos 27 anos, estudava já na Universidade de Oxford, após ter conseguido uma bolsa de estudo Fundação Calouste Gulbenkian que lhe permitiu ali doutorar-se. A tese de doutoramento, O Poder e o Povo: a revolução de 1910, foi defendida nos anos 70.
De volta a Portugal, foi professor e investigador de diversas instituições e passou por alguns cargos políticos. Em 1979, foi secretário de Estado da Cultura do Governo de Sá Carneiro; em 1985 integrou a direção do o MASP (Movimento de Apoio de Soares à Presidência, que levaria Mário Soares ao cargo). Mais tarde, chegou a ser deputado pelo PSD durante uns breves meses, em 1995: demitiu-se, dizendo-se «desiludido», após a saída de Fernando Nogueira.
Repartiu sempre a vida entre a história, a política e os jornais, e numa entrevista ao Diário de Notícias publicada em 2018 lamentou a decisão. «O jornalismo prejudicou-me porque teve uma importância na minha vida que nunca deveria ter tido», afirmou. Colaborou com o Expresso, Diário de Notícias, A Tarde e O Independente e foi comentador da TSF, da Rádio Comercial e da TVI e deixou várias obras publicadas. O seu último livro, O Fundo da Gaveta – Contra-Revolução e Radicalismo no Portugal Moderno (D. Quixote), foi editado em 2018.
Corrosivo e polémico, foi de coluna em coluna, de entrevista em entrevista, ditando perfis: dizia que Marcelo eram um Presidente «implausível», os portugueses «indígenas»; Miguel Esteves Cardoso um «irresponsável». Mário Soares ocupava na sua vida um lugar especialmente dúbio mas era, afinal, dizia Pulido Valente, a única pessoa que talvez tivesse verdadeiramente admirado. Também veio da sua pena a expressão que marcou a anterior legislatura: ‘Geringonça’.