A política é essa atividade nobre do governo da Polis para o bem comum. Quando se instala o interesse de uma pessoa ou de um grupo que fere o bem comum, o governo da Polis está em perigo.
Pode uma democracia ser governada segundo princípios ditatoriais? A resposta é simples: sim! O que se tem passado nas democracias ocidentais é um pouco o espelho do declínio dessas mesmas democracias. Esta semana, nós podemos dizer que a democracia corre o perigo de deixar nas mãos de 185 deputados o destino de dez milhões. Se uma matéria tão grave como a legislação sobre o fim de vida, mesmo que em circunstâncias muito específicas e definidas, não for a consulta popular, significa que a democracia corre graves perigos.
Mas o problema que é colocado hoje, não é de hoje. Há anos que os sistemas políticos em Portugal, e não só, vivem de ideologias e manipulam as massas para atingirem os seus fins. Mais uma vez repito: há uma vontade de alimentar ideologias e não de realizar o bem comum, conforme a vontade dos cidadãos. Há, ainda, um outro problema. Para além de se poder vir a fazer a consulta popular através de um referendo, não temos garantida a neutralidade e a isenção que uma democracia exige para um voto firme e livre de cada um. Desde os tempos de Palo Alto que, através do Modelo de Lasswell, a comunicação se tem fixado nos estudos dos efeitos da comunicação a fim de se produzirem mensagens capazes de obter determinados resultados. Isto pode parecer uma teoria da cabala, mas são fenómenos que estão mais do que estudados e documentados.
O problema, como disse, já vem de trás. O problema é sempre o mesmo: a ideologia. Há um grupo de deputados que tem uma determinada ideologia que pretende impor à sociedade. Esse grupo não desiste até que os resultados sejam conformes ao seu pensamento.
Quando se levantou a questão da legalização do aborto em Portugal, em 1998, foi feito um referendo que teve como resultado de 51% a manifestar a sua vontade pelo Não. Assim, não contentes com os resultados obtidos, levados pela mesma ideologia, menos de dez anos depois, em 2007, faz-se outro referendo onde o Sim teve 59%.
O mesmo aconteceu com a questão da eutanásia. Em 2018 houve quatro projetos que foram apresentados na Assembleia da República e chumbaram por quatro votos. Isto é mesmo verdade! Sem tirar nem por! O que foi chumbado há dois anos, voltou outra vez a ser discutido na mesma casa da democracia. E agora passou.
Isto é que é o grande perigo, quando aqueles que nos governam são levados pela ideologia e não pelo serviço do bem comum. Vai-se de votação em votação até que sejam satisfeitas as ideologias partidárias de cada um.
Há uma manipulação constante das massas para aceitarem tudo o que aparece como respeito pela liberdade de cada individuo. Mas na realidade, a democracia continua em perigo, porque mesmo que cheguemos a um referendo, sabemos que a manipulação da Opinião Pública é tão evidente que iremos de referendo em referendo até que seja satisfeita a ideologia.