A cultura da morte

Logo após a aprovação da lei da eutanásia houve quem, rejubilando de alegria, tivesse decretado que se tratou de um dia grande para a democracia. Uma democracia em que doentes morrem sentados numa cadeira de um serviço de urgências, enquanto aguardam, há horas a fio, para serem atendidos!

“A vida humana não é um direito absoluto”! Quem terá preferido esta declaração? Hitler? Estaline? Mao Tsé Tung?

Não, esses não precisaram de o afirmar, limitaram-se a aplicar essa máxima!

Foi mesmo Isabel Moreira, a deputada socialista que despoletou, dentro do seu partido, a questão da eutanásia. A mesma que, recentemente, quando lhe foi concedida a palavra em pleno plenário, desculpou-se da forma atabalhoada como se expressava por estar sob o efeito de drogas (se bem que, de imediato, aflita, esclareceu tratar-se de drogas lícitas, seja lá isso o que for…).

A tal deputada que já confundiu a sua cadeira no hemiciclo de S. Bento com um gabinete de uma manicure.

É preocupante, se não mesmo assustador, que os destinos de uma Nação soberana há quase um milénio estejam nas mãos de pessoas desequilibradas, para quem a vida humana tem o valor de um qualquer bem descartável.

Gente que se está marimbando para a vontade popular, decidindo, em nome do povo, sem que por ele tenha sido mandatada para o efeito. Nenhum dos maiores partidos, que juntos representam quase 70% do eleitorado, submeteu aos seus presumíveis votantes, através dos respectivos programas eleitorais, a ideia de tornarem legal a prática da eutanásia.

E o Parlamento aprova uma lei, versando sobre uma matéria que fere com a consciência individual de todos, sem que equacione, sequer, a possibilidade de a submeter à consideração dos portugueses.

Alguém recordou, há poucos dia, e para se justificar da decisão de não se avançar com um referendo, o ocorrido com o Brexit, ou seja, na mente destes seres menores, que têm tanto de democratas como um ladrão tem de honestidade, representa um perigo para a democracia a probabilidade da vontade dos portugueses ser a oposta daquela que lhes querem impôr.

Por isso os ilustres deputados da Nação preferiram legislar nas costas do povo, não correndo o risco de auscultar a sua opinião, processo que poderia levar à inviabilização dos seus planos.

Logo após a aprovação da lei da eutanásia houve quem, rejubilando de alegria, tivesse decretado que se tratou de um dia grande para a democracia.

Uma democracia em que doentes morrem sentados numa cadeira de um serviço de urgências, enquanto aguardam, há horas a fio, para serem atendidos!

Uma democracia em que pessoas morrem em casa, remetidas para uma lista interminável de espera para uma cirurgia que lhes salve a vida, porque não dispõem de capacidade financeira que lhes permita recorrer a um hospital privado!

Uma democracia em que doentes terminais, ou em estado de doença incurável, suplicam para que os matem, por não suportarem mais a dor física ou psicológica, pela simples razão de que o Estado os abandona à sua sorte, não investindo convenientemente nos cuidados paliativos.

Uma democracia em que os filhos, espoliados até à medula por um fisco obsessivo, que não lhe permite dispor mais do que um exíguo espaço a que chamam casa e com despesas exorbitantes para garantir um adequado sustento da família, se vêem impossibilitados de acolherem os seus próprios pais, ou, no mínimo, assegurarem o seu internamento num lar condigno, quando estes enfrentam já o ciclo final de vida, afigurando-se como a alternativa mais viável a antecipação forçada desse mesmo ciclo!

Seria de todo conveniente que certos políticos, depois de exagerarem na dosagem das misturas que inalam, absterem-se de abrir a boca durante algum tempo, pelo menos até que os efeitos alucinogénicos dessas substâncias se dissipem.

Falar-se em dia grande para a democracia quando o que está em causa é a morte como solução, por o Estado se declarar incapaz de garantir as condições mínimas que assegurem o prolongamento digno da vida, é de uma insensatez atroz e de uma demagogia sem limites, discurso típico dos escroques e farsantes que dedicam todas as horas do dia na procura de medidas que enfraqueçam o papel da família, base natural de uma sociedade civilizada e evoluída.

O recurso à morte assistida, ao contrário dos que nos pretendem fazer crer, de que se trata de um salto civilizacional, é antes um regresso ao passado, mais propriamente à pré-história, período no qual os mais fracos, tomados como um fardo para os mais resistentes, eram abandonados à morte, destino que nem aos animais estava reservado.

Os políticos que diariamente nos desgraçam, escudados num suposto órgão de soberania que mais não passa do que de uma correia de transmissão dos partidos, no qual a vontade soberana de um povo raramente é tida em conta, pariram uma lei inspirada nos modelos em vigor em muitos poucos países, porque os restantes, que representam a esmagadora maioria, não se revêm na prática dessa barbárie.

Em particular, foram beber na Holanda e na Bélgica as ideias para o projecto que querem impôr aos portugueses, curiosamente países nos quais se discute hoje o abandono do suicídio executado por terceiros, pela simples razão de que, segundo estudos credíveis e independentes, cerca de 20 a 30% dos velhos que são levados a morrer nessas circunstâncias o fazem contrariados, cedendo às pressões das famílias ou dos hospitais, que deles se querem, pura e simplesmente, livrar.

Se a natureza humana fosse generosa, a morte assistida poderia constituir-se, no limite e em casos absolutamente excepcionais, numa fatalidade compreensiva, mas, infelizmente, sabemos bem que a realidade é bem diferente e, por muito que nos tentem convencer do contrário, com a legalização da eutanásia vão-se abrir portas para homicídios em massa, camuflados em nomes apelativos, como compaixão e misericórdia.

Caminhamos, a passos largos, para uma sociedade desumana, em que o mal triunfa sobre o bem. É o renascer da cultura da morte!

Grande parte destes políticos sem coração que se passeiam pelos corredores de S. Bento sofre de uma doença degenerativa incurável, que lhes tolde o sistema cognitivo,  pelo que deles se espera que sejam coerentes com os princípios que defendem e apliquem, a si próprios, a lei que acabaram de aprovar.

A Pátria agradece-lhes! 

 

Pedro Ochôa