A ex-eurodeputada do PS Ana Gomes considera que a denúncia feita nos últimos dias pela jornalista Ana Leal sobre uma alegada pressão de António Costa junto da TVI é grave e que o assunto tem de ser esclarecido. Em entrevista ao semanário SOL, a jornalista havia revelado que mais do que ameaças físicas a preocupa o facto de “um político, à época ministro, [achar] que pode à distância de um telefonema ligar para uma administração ou para uma direção de informação a dizer: ‘Despeçam-na!’” E adiantou que quando isso aconteceu, António Costa era ministro e estava em causa uma investigação que fizera sobre o SIRESP.
Ao i, Ana Gomes diz que, dada a gravidade do caso, é preciso que haja um esclarecimento cabal. “Se isso aconteceu, a jornalista sabe a quem foi feito tal pedido e pode identificar, e essa pessoa pode ser questionada, assim como o primeiro-ministro. É um assunto que merece esclarecimento, sem dúvida nenhuma”, assegurou.
Ana Gomes reforçou ainda: “A acusação é grave, é muito grave. Numa sociedade democrática, é muito grave e, por isso, acho que é fundamental que a jornalista que se sente vítima dessa atuação do então ministro, que hoje é primeiro-ministro, deve dizer como teve conhecimento dessa pressão, sobre quem foi exercida – não sei se teve conhecimento direto pela pessoa em causa –, e o primeiro-ministro e essas pessoas devem ser questionadas”.
Quanto ao facto de a denúncia ter sido feita já vários anos após a alegada pressão, Ana Gomes diz que isso não é impeditivo de se apurarem responsabilidades: “Só tenho pena que essa denúncia não tenha sido feita mais cedo, designadamente na altura, mas, tendo sido feita agora, isso não impede que o caso seja esclarecido. Acho que essa questão merece esclarecimento por parte do primeiro-ministro e por parte dos intervenientes”.
Questionado no último sábado sobre as acusações feitas pela jornalista, o gabinete do primeiro-ministro mantém-se em silêncio.
A entrevista de Ana Leal ao SOL tem provocado diversas reações, incluindo uma da TVI. A estação de Queluz de Baixo reagiu à alegada pressão de António Costa, assim como a um alegado estrangulamento do programa da jornalista, referindo que a entrevista foi dada sem autorização e que a “TVI não decide criar ou acabar com programas em função de pressões externas”. É_ainda assegurado que a atual direção de informação nunca recebeu pressões de António Costa, não se pronunciando sobre episódios que tenham ocorrido antes da sua chegada.
No Twitter, o embaixador Francisco Seixas da Costa também reagiu, alertando que se está perante um caso gravíssimo: “Se a jornalista Ana Leal provar, sem sombra de dúvida, que o PM telefonou para a TVI a pedir a sua demissão, trata-se de um caso gravíssimo que não pode passar sem sérias consequências políticas. Se não provar, a gravidade é idêntica e, de facto, é uma razão para ser demitida”.