A economia está em ‘modo pânico’

O novo coronavírus assustou os investidores e as bolsas mundiais viveram a pior semana desde a crise financeira em 2008. Os setores do turismo e aviação já sentem impacto.

As consequências do novo coronavírus na economia mundial são para já imprevisíveis, mas o seu impacto tem vindo a crescer como uma bola de neve, afetando todos os setores. As preocupações aumentam a cada segundo, mas perante um cenário de colapso global resta às organizações internacionais procurar soluções para as mitigar.

Neste contexto, as bolsas mundiais fecharam a última semana com os piores resultados desde a crise financeira em 2008. Com a propagação do surto em Itália, os mercados europeus e norte-americanos não evitaram um trambolhão: as ações a nível global caíram a mais de 10% face aos máximo atingidos em fevereiro.

«O coronavírus colocou os mercados em ‘modo pânico’, com os investidores a preferirem abster-se de investir a expor-se ao risco», explica ao SOL André Pires, da XTB. O analista considera que «esta aversão ao risco deriva do receio de que, caso a epidemia se torne numa pandemia, poderemos ver diversas restrições ao tráfego de mercadorias, interrupções de fornecimentos ou cancelamentos maciços de viagens (com impacto nos setores ligados ao turismo)».

Neste capítulo, a dimensão do problema já ultrapassou a teoria. Para se compreender a questão, basta saber que os turistas oriundos da China representam 255 mil milhões de euros/ano à escala internacional (segundo a Organização Mundial do Turismo). A quebra de viagens e reservas cria um problema irreversível, tanto no mercado asiático como europeu, para os setores do turismo e da aviação. André Pires recorda que «os países do sudeste da Ásia investiram fortemente em resorts e casinos para capturar turistas de nacionalidade chinesa [e] dependem fortemente do turismo chinês, casos de Vietname, Tailândia, Camboja, Malásia e Singapura». «A onda de cancelamentos de reservas tem um impacto imediato nas companhias aéreas, hotéis e agência de turismo, não só de turistas da China, mas também de viajantes ocidentais, assustados com a disseminação do vírus», sublinha. Pelo resto do mundo, o cenário é semelhante, com destaque para Itália, onde os responsáveis das regiões de Friul-Veneza Júlia, Véneto e Lombardia descrevem uma situação «à beira do colapso» – até o icónico Carnaval de Veneza foi cancelado.

É expectável que a China, epicentro do surto, e segunda maior economia do mundo – representando 16% do Produto Interno Bruto (PIB) global –, venha a ser o país mais afetado. Nas últimas previsões, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em baixa o crescimento do PIB chinês, para este ano em 5,6%, contra os 6% da estimativa anterior. O FMI admitiu ainda rever em baixa as previsões de crescimento mundial (pelo menos até 0,1%).

«A estagnação das trocas comerciais é um risco real», explica André Pires, que acrescenta que em causa está «um exacerbar da aversão do risco e do comportamento preventivo da população».

Entretanto, FMI e Banco Mundial também anunciaram planos de financiamento de urgência para países que enfrentem dificuldades. Já a Comissão Europeia admitiu estar a preparar medidas de apoio e vir a utilizar para a Itália as cláusulas de flexibilidade excecionais previstas no Pacto de Estabilidade e Crescimento, numa altura em que já se fala de uma nova recessão no país.